Estava tanto sol, lembras-te? O sol brilhava sobre mim e tu sorrias-me. Outra vez eu estava junto a ti e tu olhavas-me, quieto, sorrindo. 'O que é?', perguntei-te e tu disseste que a luz da janela incidia em mim e que era uma luz que me rodeava e eu sorri, porque, naquele momento, senti que uma luz qualquer me iluminava mas talvez fosse apenas o teu sorriso que me iluminava.
Outra vez estavamos juntos, ao lado um do outro, o rio lá em baixo, ao fundo, e o sol sobre nós, e eu sentia que o sol nos abençoava e tu sorrias, amorosos, apaixonado e eu sorria, feliz, quieta. Bastava-me o sol e o teu sorriso ambos pousados sobre mim para me sentir invadida por uma paz imensa, uma infinita confiança, um amor tranquilo.
Lembras-te? Lembras-te do sol e do nosso amor?
Sorri uma vez mais, sorri para mim, sorri, meu terno amor. E lembra-te do que fazíamos quando deixavamos o sol do lado de fora e trazíamos o amor para dentro de portas.
À beira Tejo, no Cais do Sodré |
Deixa
o sol
entrar
pela janela
do amor
enclausurado
Deixa
o amor
e o sol
verem-se
muitas vezes
Deixa-
-os
virem-
-se
à sua livre
vontade
(Poema de Rui Caeiro in 'O quarto azul e outros poemas')
Olá, Jeito Manso
ResponderEliminarGosto deste poema. A sua interpretação cria uma linda história à sua volta dele. Complementam-se naturalmente. A foto é linda e vai bem com a paisagem e as palavras.
Bjo
Olinda
Olinda,
ResponderEliminarMuito obrigada. Tenho esta disciplina que consiste em escolher um poema, depois escolher uma fotografia minha que minimamente se encaixe (e que esteja sempre relacionada com o Ginjal, com o Tejo, com Lisboa) e, a seguir, deixar que o espírito do poema me inspire a escrever um pequeno texto que, de alguma forma, reflicta o espírito do poema.
Todos os dias (excepto à 6ª ou sábado), sento-me aqui, abro um livro de poesia ao acaso e, sem pensar, deixar que a intuição e imaginação me guie.
É um exercício que adoro fazer.
Fico contente por saber que isso é apreciado.
Um beijinho.