Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

02 outubro, 2011

De repente do riso fez-se pranto, de repente, não mais que de repente [... It's The Blues Week, ladies and gentlemen]


Como dizer-te, meu amor, o meu espanto, a dor que calo no meu peito?

Como dizer-te dos silêncios que habitam o meu coração, como dizer-te do vazio das minhas mãos?

Como dizer-te, amor ausente, da solidão, da tristeza, como dizer-te?

Ríamos, beijavamo-nos, abraçavamo-nos, estavamos apaixonados e a vida era isso e isso bastava, eramos felizes, cada dia era o mundo inteiro, cada olhar era um momento infinito, cada sorriso era um profundo afago na alma.

São palavras, só palavras, e só quem viveu tão intenso e urgente amor, o poderá perceber.

Só quem um dia, tendo tido a vida toda em cada pequeno instante, poderá perceber o vazio sem remissão que fica depois da separação. De repente, não mais que de repente. A tristeza da separação.



[Feeling blue? So am I. So, please, let´s go to Ms Bessie Smith show, she's singing the Blues. A seguir ao Mestre Vinicius, temos Música no Ginjal - esta semana é a semana dedicada a Blues. Imperdível]


De frente para Lisboa, a Bela, rente ao Tejo - a solidão, a visível ausência


                               De repente do riso fez-se o pranto
                               silencioso e branco como a bruma
                               E das bocas unidas fez-se a espuma
                               e das mãos espalmadas fez-se o espanto.

                               De repente da calma fez-se o vento
                               que dos olhos desfez a última chama
                               e da paixão fez-se o pressentimento
                               e do momento imóvel fez-se o drama.

                               De repente não mais que de repente
                               fez-se de triste o que se fez amante
                               e de sozinho o que se fez contente

                               Fez-se do amigo próximo, distante
                               fez-se da vida uma aventura errante
                               de repente, não mais que de repente.


 ('Soneto de separação' de Vinicius de Moraes in '366 poemas que falam de amor')

2 comentários:

  1. este belo soneto dá gosto ouvi lo recitado pelo autor. É como uma canção sem musica, pois nem necessita dela.
    um grande soneto da literatura em lingua portuguesa.

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  2. Vinicius fala(va) cantando, Vinicius era um mestre da arte de amar, de dizer o amor.

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