Como dizer-te, meu amor, o meu espanto, a dor que calo no meu peito?
Como dizer-te dos silêncios que habitam o meu coração, como dizer-te do vazio das minhas mãos?
Como dizer-te, amor ausente, da solidão, da tristeza, como dizer-te?
Ríamos, beijavamo-nos, abraçavamo-nos, estavamos apaixonados e a vida era isso e isso bastava, eramos felizes, cada dia era o mundo inteiro, cada olhar era um momento infinito, cada sorriso era um profundo afago na alma.
São palavras, só palavras, e só quem viveu tão intenso e urgente amor, o poderá perceber.
Só quem um dia, tendo tido a vida toda em cada pequeno instante, poderá perceber o vazio sem remissão que fica depois da separação. De repente, não mais que de repente. A tristeza da separação.
[Feeling blue? So am I. So, please, let´s go to Ms Bessie Smith show, she's singing the Blues. A seguir ao Mestre Vinicius, temos Música no Ginjal - esta semana é a semana dedicada a Blues. Imperdível]
De frente para Lisboa, a Bela, rente ao Tejo - a solidão, a visível ausência |
De repente do riso fez-se o pranto
silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
e das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
que dos olhos desfez a última chama
e da paixão fez-se o pressentimento
e do momento imóvel fez-se o drama.
De repente não mais que de repente
fez-se de triste o que se fez amante
e de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo, distante
fez-se da vida uma aventura errante
de repente, não mais que de repente.
('Soneto de separação' de Vinicius de Moraes in '366 poemas que falam de amor')
este belo soneto dá gosto ouvi lo recitado pelo autor. É como uma canção sem musica, pois nem necessita dela.
ResponderEliminarum grande soneto da literatura em lingua portuguesa.
Vinicius fala(va) cantando, Vinicius era um mestre da arte de amar, de dizer o amor.
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