Tantas, tantas vezes subi e desci esta rua, a mais bela e luminosa de todas as ruas de Lisboa. Entrei em cada uma das suas lojas, detive-me nas montras, maravilhei-me com os antiquários, com as louças de Sant'Ana, deliciei-me com o rio, tão lindo, tão lindo. Tantas vezes sozinha, tantas vezes de mão dada, abraçada.
Tantas vezes ali chegávamos, tantas vezes dali partimos.
Pisava esta rua e já me sentia apaixonada, olhava os barcos no rio e sentia-me enlevada. Era pecado? Nunca senti que o fosse. Embora tivessemos que nos recatar, sentia-me tão livre, tão livre.
Ainda hoje, nenhuma outra rua como esta me transporta para ambientes mágicos de amor e ternura. Esta rua transporta-me para longe, ando aqui nesta bela Rua do Alecrim (só o nome da rua já me agrada), nesta rua onde podemos ver o grande Eça, e sinto que não sou de cá, tudo me é permitido porque não sou de cá e, no entanto, aqui tenho tanto orgulho de ser portuguesa.
Vamos outra vez descer a rua, amor? Vamos?
Quando aqui passo, meu amor, transporto comigo os fios de aurora que recolhi no rio. Com eles enfeitarei os teus sonhos durante a noite. Vem amor, vem ver o rio.
[A seguir, depois do poema, desça comigo e vamos até àquela velha viela ali no Ginjal em que Maria Ana Bobone enche a beira do rio com a sua belíssima voz]
belíssimo poema ou parte de poema, o conteudo, as contradições ou oposições, as consonancias. Era de facto trabalhador da poesia, sabendo combinar forma e conteudo.
ResponderEliminarDeu-me prazer voltar a ler dmf.
Ps. todo o prolongamento dessa rua de que fala, subindo até s pedro de alcantara, depois principe real e escola politecnica até ao rato forma um belisimo conjunto, felizmente não estragado
Caro Patrício,
ResponderEliminarGosto imenso de David Mourão Ferreira, e é o que diz, burilava a poesia, cerzia as palavras.
Esta zona de Lisboa é das minhas preferidas. Apesar de haver sempre algumas obras, bocados de passeios em obras, prédios de fachadas cobertas em processo de restauro, há ali uma vivência que vem de trás e que se reinventa. Muito turismo, muita gente nova, música, é um gosto. E o Tejo muito presente.