Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

26 setembro, 2011

Música não há aqui mais que a que faço


Aqui onde estou, silenciosa, vendo o rio que anoitece, vendo as estrelas que enfeitam a minha janela, escrevo palavras que alguém, não sei quem, vai ler. Solto as minhas palavras ao vento. Voam sobre o rio, voam sobre as cidades, atravessam o oceano, pousam não sei onde.

E então, olhando estas minhas palavras sinto que não estou sózinha, neste doce silêncio que me envolve. Aí, não sei onde, estão vocês, recolhendo as minhas palavras como pequenos pássaros que assomam à vossa janela. Sei que as tomam com carinho nas vossas mãos, que as aconchegam junto ao vosso coração. São vocês que estão aqui comigo. E lá em cima no céu, junto às estrelas ou dentro das águas frescas do rio, estão os anjos de grandes asas que a Sophia deixou para olharem por mim e para silenciosamente me ditarem estas palavras que vos digo.


[Convido-vos de novo, e agora todos os dias, a que, logo que tenham visto o poema abaixo, sigam até mais abaixo onde uma mulher rodopia como uma palavra largada ao vento; depois fechem os olhos e sintam-se felizes]

Junto ao Tejo, junto à Torre de Belém, o fotógrafo é fotografado

                     Música
                     não há aqui mais que a que faço,
                     a que eu faço e desfaço
                     à boca do silêncio.
                     Enquanto lá muito em cima,
                     em não sei que esferas,
                     cantam uns anjos que não ouço
                     mas fazem retinir as minhas mãos.


                    (Poema de Pedro Tamen in 'O livro do sapateiro')

5 comentários:

  1. Ai o que eu gosto do meu velho amigo Pedro e que bonita a foto.
    Pedro Tamen pertenceu a um grupo de católicos progressistas que muito me marcara. Para o bem e para o mal.
    Pedro e o Pai dos meus filhos deixaram em mim as melhores marcas, aquelas que jamais a vida ou os anos deixarão apagar. Abençoados seres que tanto me enriqueceram e a quem tanto devo!

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  2. Jeitinho
    Sou um pé a fotografar. Detesto ser fotografada. Mas adorava saber fazê-lo, captar "o minuto de vida" de alguém ou o instante de alguma coisa que me tocou.

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  3. Helena,

    Adoro fotografar. Tenho muitos milhares de fotografias, é vício, é prazer, é éstimulante. Sobretudo adoro fotografar pessoas (sem que saibam que estou a fotografá-las o que é uma ginástica que não lhe digo nada, sempre com medo de me ver metida em trabalhos)

    Se clicar aqui ao lado onde diz Streetphoto & Co. que é o meu 3º blogue, onde coloco fotografias de rua.

    Neste, no Ginjal e Lisboa, ponho fotografias tiradas essencialmente no Ginjal, junto ao Tejo, em Belém, ou seja, locais que tenham que ver com as duas margens (e que tiro quando faço as minhas caminhadas junto ao rio).

    No Streetphoto, ponho fotografias que tiro em todo o lado. Tento pôr lá uma fotografia por dia.

    Quanto ao conhecer o Pedro Tamen (e, claro, o Arqto Nuno Portas) só pode ser uma coisa de que se orgulhe infinitamente: duas pessoas acima da mediania. No outro dia ouvi o segundo falando dum outro arquitecto e falou com tal sentimento e tal inteligência, que pensei 'tomara que a Helena o esteja a ouvir, que vai gostar'.

    Pessoas assim enriquecem, de facto, aqueles que com eles convivem.

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  4. A esta casa chegaram os pássaros das palavras. As suas palavras serenas, os musicais versos de Pedro Tamen...

    (Grandes transformações aqui no Ginjal! Ainda me estou a habituar às cores escuras, os momentos musicais à beira-rio combinam, sim.)

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  5. Leitora,

    Que feliz fiquei com a sua visita. Que feliz fiquei com as suas palavras.

    Ainda bem que gostou. Está a dar-me muito prazer. Gosto de mudanças (já deve ter percebido), gosto de me meter por terrenos ainda por desbravar.

    Muito obrigada, Leitora.

    Volte sempre que visitas assim, que nos compreendem tão bem, são a melhor companhia que podemos ter.

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