Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

04 setembro, 2011

Aguardamos asas

Poderíamos voar, um na direcção do outro, se tivéssemos asas. Mas não temos.

Poderíamos falar um com o outro. Mas não falamos para ninguém nos ouvir.

Poderíamos encontrar-nos um com o outro, mas não o fazemos porque nos podem ver.

Poderíamos, poderíamos, mas nada fazemos porque pomos a opinião dos outros acima da nossa própria opinião.

Pomos...? Eu não, eu não sou assim.

E tenho sempre presente que a vida é breve. Por isso, não perco tempo à espera do último verso.

Hoje, jardim do Ginjal e Tejo, vistoas a partir da Csa da Cerca

Firmamos os pés na terra que é
como quem diz no
assoalho que é como quem diz na
terra

Aguardamos: asas que ninguém
nos vem fixar aos pés aos sovacos
às orelhas. Aguardamos
asas

Preenchemos o tempo gritando
por socorro ou fazendo amor sem ruído
de preferência debaixo da
cama

Não vá acontecer - tu já sabes
como as pessoas são - vir
alguém só para dar o
flagra.


('Nós', poema de Rui Caeiro in 'O quarto azul e outros poemas')

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