Um amor só acontece quando coincidem as felizes circunstâncias da disponibilidade mútua, da vontade mútua. Quantos amores não falham só porque o destino falha o momento.
Pode acontecer quando alguém vem de muito longe? Quando alguém que não se conhece fala como se fosse conhecido desde sempre? Quando o jardim de um parece o jardim inventado por outro? Quando o sonho de um parece a história do outro? Será que se conheciam antes do princípio do mundo?
Não sabemos, tal como não conhecemos as mãos, os rostos, tal como não sabemos nada.
| Hoje, ao fim do dia, no Ginjal, casal namora sobre o Tejo, de frente para Lisboa, um pilar da Ponte já ali, imponente |
Há o teu rosto dentro do teu rosto: único e múltiplo.
As tuas mãos de outrora nas tuas mãos de agora
há o primeiro amor que é sempre o último
antes do tempo ou só depois da hora.
E vinhas de tão longe. E era tão fundo.
Eu conheço-te. E era por mim. E era por ti. E era por dois.
E havia na tua voz o princípio do mundo.
E era antes da Terra. E era depois.
As tuas mãos de outrora nas tuas mãos de agora
há o primeiro amor que é sempre o último
antes do tempo ou só depois da hora.
E vinhas de tão longe. E era tão fundo.
Eu conheço-te. E era por mim. E era por ti. E era por dois.
E havia na tua voz o princípio do mundo.
E era antes da Terra. E era depois.
('Poema do eterno retorno' de Manuel Alegre in Livro do Português Errante)
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