Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

05 julho, 2011

Há o teu rosto dentro do teu rosto: único e múltiplo

Um amor só acontece quando coincidem as felizes circunstâncias da disponibilidade mútua, da vontade mútua. Quantos amores não falham só porque o destino falha o momento.

Pode acontecer quando alguém vem de muito longe? Quando alguém que não se conhece fala como se fosse conhecido desde sempre? Quando o jardim de um parece o jardim inventado por outro? Quando o sonho de um parece a história do outro? Será que se conheciam antes do princípio do mundo?

Não sabemos, tal como não conhecemos as mãos, os rostos, tal como não sabemos nada.

Hoje, ao fim do dia, no Ginjal, casal namora sobre o Tejo, de frente para Lisboa, um pilar da Ponte já ali, imponente

Há o teu rosto dentro do teu rosto: único e múltiplo.
As tuas mãos de outrora nas tuas mãos de agora
há o primeiro amor que é sempre o último
antes do tempo ou só depois da hora.


E vinhas de tão longe. E era tão fundo.
Eu conheço-te. E era por mim. E era por ti. E era por dois.
E havia na tua voz o princípio do mundo.
E era antes da Terra. E era depois.


('Poema do eterno retorno' de Manuel Alegre in Livro do Português Errante)

Sem comentários:

Enviar um comentário