Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

13 março, 2011

O poeta é um fingidor

Lembras-te? O poeta é um fingidor. Tu também és um fingidor. Eu também.

Fingimos que não nos dói, fingimos que nada sentimos, fingimos. 
E o nosso coração continua a bater porque a razão nos diz que assim deve ser.

Dois veleiros a fingirem que é um único. Vistos no Tejo, a partir do Ginjal, Lisboa, sedutora, ao fundo

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.


E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.


E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

(Autopsicografia de Fernando Pessoa)

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