Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

09 março, 2011

Caminhei sempre para ti sobre o mar encrespado

Caminhei para ti. Sem o saber era para ti que caminhava.

Foi uma longa caminhada até ti e, depois, fez-se noite.

Mas é verdade: o amor é uma noite a que se chega só.

Avistado do Ginjal, barco à vela numa manhã de vento e chuva, num Tejo encrespado, Lisboa sombria do outro lado

Caminhei sempre para ti sobre o mar encrespado
na constelação onde os tremoceiros estendam
rondas de aço e charcos
no seu extremo azulado

Ferrugens cintilam no mundo,
atravessei a corrente
unicamente às escuras
construí a minha casa na duração
de obscuras línguas de fogo, de lianas, de líquenes
A aurora para a qual todos se voltam
leva meu barco da pota entreaberta

o amor é uma noite a que se chega só


('A noite abre meus olhos' de José Tolentino de Mendonça' in 'A noite abre meus olhos [poesia reunida])

Nota: Este livro é uma jóia até do ponto de vista do objecto livro: é muito bonito, muito bem feito, parece um missal.

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