Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

22 fevereiro, 2011

São horas de voltar mas tu já não vens


Sei que não voltas.

Volto à casa onde contigo o sol de verão nos iluminou ao espelho e escondo a cara para não ver que não estás ao meu lado.

Já não te espero porque a espera se gastou nos dias magoados, onde as luzes se apagam.

Como um pássaro solto no vento partiste, talvez para sempre

(Interior de um armazém - ... eu a espreitar para dento das casas que escondem segredos, tesouros do mar, no Ginjal)

São horas de voltar. Tu já não vens, e a espera
gastou a luz de mais um dia. Agora, quem passar
trará um corpo incerto dentro do nevoeiro,
mas terá outro nome e outro perfume. Eu volto

à casa onde contigo se demorou o verão e arrumo
os livros, escondo as cartas, viro os retratos
para a mesa. Sei que o tempo se magoou de nós,
sei que não voltas, e ouço dizer que as aves
partem sempre assim, subitamente. Outras virão

em março, apago as luzes do quarto, nunca as mesmas.


('São horas de voltar' de Maria do Rosário Pedreira in A Casa e o cheiro dos Livros)

Sem comentários:

Enviar um comentário