Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

11 janeiro, 2011

Só quem procura sabe como há dias de imensa paz deserta

É isto o desencontro, nada coexiste, nenhum gesto a um gesto corresponde, é uma solidão sem fim, sem nome algum.

Em frente deste paredão pergunto: é dor? É saudade?

E nenhuma voz me responde.

(A tristeza de uma árvore morta, arrastando-se pesadamente nas águas barrentas de um Tejo em dia de mau tempo, no Ginjal)


Só quem procura sabe como há dias
de imensa paz deserta; pelas ruas
a luz perpassa dividida em duas:
a luz que pousa nas paredes frias,
)

outra que oscila desenhando estrias
nos corpos ascendentes como luas
suspensas, vagas, deslizantes, nuas,
alheias, recortadas e sombrias.

E nada coexiste. Nenhum gesto
a um gesto corresponde; olhar nenhum
perfura a placidez, como de incesto,

de procurar em vão; em vão desponta
a solidão sem fim, sem nome algum -
- que mesmo o que se encontra não se encontra.


(Desencontro de Jorge de Sena, in 'Post-Scriptum'

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