Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

24 janeiro, 2011

Por ti dou tudo, mais do que eu possa de mim

Por ti me divido, por ti dou tudo, para ti guardo o meu coração independente, coração que não comando, a ti te procuro todos os dias, imaginando que estás perto, por ti todos os dias parto deste porto em que me encontro.

Pequeno barco, avistado do Ginjal, atravessa o Tejo, ontem bastante picado, num dia de tantas e cinzentas nuvens duras

Por ti dou tudo, mortes, mais do que eu
possa de mim ou nada ser ou estar;
por ti me vejo e sujo, e sou sandeu,
viajo sem bilhete a marear

mareado de quem, ou em que passo
pr'a outro continente que contenha
fidelíssima a históri que te faço
antes que conte, ou cante, ou livre venha

imitar os sossegos e as agruras
das algas-picos sob o sol caído
de tantas e cinzentas nuvens duras.

Por te me fino, fano, e me divido
entre a noite de vela em que me curas
e o dia perto, porto, parto ferido.


(Belíssimo soneto de Pedro Támen)

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