Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

02 janeiro, 2011

Bastava-nos amar, fazermos uma teia, fazermos amor sobre a areia

Houve uma altura em que já não bastava olhar mas bastava-nos amar, bastava-nos ficar.

Mas ninguém volta ao que já deixou, ninguém lembra nem o que sonhou.

Ao largo ainda arde a barca da fantasia mas tão ao largo, meu amor, tão ao largo.


('Congresso de gaivotas' no Ginjal, hoje, num dia de denso nevoeiro no Ginjal, Lisboa oculta sob uma pesada veste branca)

Bastava-nos amar. E não bastava
o mar. E o corpo? O corpo que se enleia?
O vento como um barco: a navegar.
Pelo mar. Por um rio ou uma veia.

Bastava-nos ficar. E não bastava
o mar a querer doer em cada ideia.
Já não bastava olhar. Urgente: amar.
E ficar. E fazermos uma teia.

Respirar. Respirar. Até que o mar
pudesse ser amor em maré cheia.
E bastava. Bastava respirar

a tua pele molhada de sereia.
Bastava, sim, encher o peito de ar.
Fazer amor contigo sobre a areia.

(Soneto de Joaquim Pessoa)

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