Era eu a falar para esconder a saudade, contando histórias que nos atam ao silêncio e tu a esconderes-te do que não dizíamos.
Não nos tocávamos e íamos fugindo. Eu fugia do toque como do cheiro e tu puxavas-me sempre para mais perto.
Mas é quase pecado o que deixamos, é quase pecado o que ignoramos.
Pusemos tanto azul nesta distância que ficamos a morder-nos na carne dum segredo.
E quebramo-nos os dois, quebramo-nos como crianças.
(A elegância e a determinação de uma jovem que se afasta do namorado numa manhã no Ginjal, com Lisboa em fundo banhada pelo Tejo)
Pusemos tanto azul nessa distância
ancorada em incerta claridade
e ficamos nas paredes do vento
a escorrer para tudo o que ele invade.
Pusemos tantas flores nas horas breves
que secam folhas nas árvores dos dedos.
E ficámos cingidos nas estátuas
a morder-nos na carne dum segredo
(Pusemos tanto azul nessa distância in Poemas de Natália Correia)
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