Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

03 fevereiro, 2014

Do alto deste monte, numa manhã assim


Manhã muito fria, luminosa mas muito fria. Por aqui ando uma e outra vez vendo Lisboa, a Bela, envolta em céu e rio, suave e branca entre um azul espelhado, percorrido por elegantes veleiros, sobrevoado por graciosas gaivotas.

Há dias em que estes grandes aves gritam, desalmadas, em que se agitam, revoltadas e em que as águas se mostram picadas, insolentes. Este domingo não. Talvez mais à frente, no oceano, as águas estivessem grandes, bárbaras, mas aqui a vida estava tranquila. 

E eu caminho rente ao Tejo, desejando guardar no meu peito esta maresia limpa que os meus olhos bebem. Vou devagar apesar de estar com pressa, não tardaria a casa encher-se-ia e era preciso preparar uma mesa cheia. Mas dilato o tempo e prendo-me a este espaço que está, desde há muito, gravado no meu coração - e, assim, não sinto a urgência do tempo. Estou sempre aqui, dentro deste universo maravilhoso.



[Para se entretecer com este poema e a imagem deste sítio que entrou dentro de mim, só mesmo uma Balada Astral. É Miguel Araújo que, mais abaixo, aqui traz uma música do seu mais recente trabalho.]


Lisboa e o  Tejo avistadas do miradouro da Boca do Vento, sobre o Ginjal



                                            Do alto deste monte, numa manhã assim,
                                            só há duas coisas a fazer:
                                            chatear deus ou deixar deus em paz.

                                            Minto.
                                            É claro que há uma terceira via
                                            (mas dá muito trabalho):

                                            fingir que não o vejo nem o oiço
                                            do alto deste monte
                                            na luz desta manhã.


                                            ['A terceira via' de A. M. Pires Cabral in Gaveta do Fundo]



4 comentários:

  1. "Nesta Lisboa que eu amo
    Sinto o mar em cada esquina
    Esta Lisboa tem ondas
    No andar de uma varina
    Cidade tão antiga, cidade amiga
    Modesta e bela
    Varia com as marés
    E tem o Tejo a seus pés
    A chorar de amor por ela.
    (...)"

    :)

    Boa noite, UJM.

    Bj

    Olinda

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    1. Olá Olinda,

      Ainda vi o seu comentário ontem à noite mas já só o consegui publicar, já não tive capacidade para responder. Mas ainda me ri por ver como estava pronta para ir para os fados àquela hora. E que saudades me deu de ir passear à noite pelas vielas da Lisboa boémia...

      É tão linda Lisboa, tão íntima, tão magnífica, tão tudo. Adoro esta cidade.

      Beijinhos!

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  2. Lisboa já por si é uma Deusa e faz de mim um crente...
    :)

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    1. Lindo! Gostei. Estou a responder e a rir porque acho graça ao que escreveu. Mas não posso estar mais de acordo.

      Um abraço, jrd!

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