Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

12 janeiro, 2014

Moço, cuidado com ela! Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...


Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera
essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia. 



Barriga cresce, explode humanidades
e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
mas é outro lugar, aí é que está:
cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
transforma fato em elemento
a tudo refoga, ferve, frita
ainda sangra tudo no próximo mês. 




Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
é que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
é que tô falando na "vera"
conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
ou sem os devidos cortejos..
Às vezes pela ponte de um beijo
já se alcança a "cidade secreta"
a Atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
cai na condição de ser displicente
diante da própria serpente
Ela é uma cobra de avental
Não despreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano
que a mulher extrai filosofando
cozinhando, costurando e você chega com a mão no bolso
 julgando a arte do almoço: Eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
então esquece de morder devagar
esquece de saber curtir, dividir.  


E aí quando quer agredir
chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
VACA é sua mãe. De leite.
Vaca e galinha...
ora, não ofende. Enaltece, elogia:
comparando rainha com rainha
óvulo, ovo e leite
pensando que está agredindo
que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo!


['Aviso da Lua que menstrua' de Elisa Lucinda dito pela própria no espectáculo"Parem de falar mal da rotina"]


2 comentários:


  1. Olá, UJM

    Delicioso! Delicioso este poema! Cada verso vale um mundo.
    Cuidado com essa gente que menstrua...Barriga cresce, explode humanidades...:))

    As imagens, muito a propósito.

    Bom Domingo

    Bj

    Olinda

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    Respostas
    1. Olá Olinda,

      E eu nem sabia que esta actriz também era poetisa. E que poemas os dela, não é mesmo? Apetece a gente parar em cada verso.

      E o final?

      (...)
      pensando que está agredindo
      que tá falando palavrão imundo.
      Tá, não, homem.
      Tá citando o princípio do mundo!

      Que graça, que força, não é?

      Estou encantada com o que vou descobrindo e Elisa Lucinda está a proporcionar-me uma verdadeira alegria.

      Um bom domingo para si, Olinda.

      Beijinhos!

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