Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Numa rocha no Jardim do Ginjal |
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
[Amar de Carlos Drummond de Andrade, dito por Marília Pêra]
*
CONTRASTE
Do amor
Nasce
Uma poalha translúcida
De ternura partilhada
Música
Surdina
Sempre escutada.
No silêncio claro
Uma canção
Transfigurada....
[Poema de Joaquim Castilho num comentário aqui abaixo]
CONTRASTE
ResponderEliminarDo amor
Nasce
Uma poalha translúcida
De ternura partilhada
Música
Surdina
Sempre escutada.
No silêncio claro
Uma canção
Transfigurada....
Um abraço
Olá Joaquim,
ResponderEliminarÉ como se eu abrisse a porta e encontrasse um inesperado ramo de rosas à porta. Muito obrigada. É lindo o poema. Vou colocá-lo lá em cima.
Um abraço.