Há pessoas que conseguem virar uma ideia do avesso, tirar dela o melhor, revirar as golas ao texto, fazer-lhe bainhas, retirar os excessos, ajustar ao corpo, e pode ser um corte preciso, umas pinças, e, depois, dão-lhe um jeito para que fique graciosa a composição, um viés, uns godés, uns machos, umas aplicações singelas mas oportunas, um ar da sua graça, uma leveza.
Fica assim o palavreado com alma - uma música, uma luz, qualquer coisa muito próxima da origem, da raiz, da seiva, do sangue, da respiração.
São os poetas. Artistas, artífices, profetas, sibilas.
Abençoados poetas. Abençoadas pessoas.
Abençoados poetas. Abençoadas pessoas.
Ver o quase invisível (No Jardim do Ginjal) |
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No meu poema ficaste
de pernas para
o ar
(mas também eu
já estive tantas vezes)
Por entre versos vejo-te as mãos
no chão
do meu poema
e os pés tocando o título
(a haver quando eu
quiser)
Enquanto o meu desejo assim serás:
incómodo estatuto:
preciso de escrever-te
do avesso
para te amar em excesso
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