Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

29 dezembro, 2013

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades


Quase a virar o ano, com vontade de despir a pele, de deitar fora as lembranças deste ano que nasceu velho e mal parido, eis que me aproximo do ano novo com flores na alma, vontade de mudanças, ansiosa por espantos bons, voos largos, novidades surpreendentes e aladas, o chão como um suave manto verde, o céu como um tule transparente e misterioso.

Que se enterrem as mágoas, as tristezas, todas as desesperanças, e que avancemos, sem medos e sem delongas, pelos caminhos que se desdobram auspiciosos à nossa frente.

Não me perguntem de onde me vêm este ânimo e estes bons augúrios - não saberia como responder. Mas sei que o mundo bom está aí à espera. Quero descobri-lo e vivê-lo, estou cá para me aventurar. E é só isso que sei - mas isso basta-me.


Uma gata no Ginjal - a serena sabedoria de saber viver o momento




Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.


['Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades' de Luís Vaz de Camões, in "Sonetos" 

- aqui dito por Rui Reininho]





'Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades' aqui com música de José Mário Branco

 - aqui interpretado com toda a cagança, toda a pujança pela Estudantina Universitária de Coimbra



2 comentários:

  1. Cara UJM,
    obviamente espero que as coisa mudem…para melhor. Creio que mudarei também, mas não apenas a pele, pois subjazerá o mesmo réptil. Acredito na mudança, mesmo sabendo que poderá ser para pior.
    Até o sol muda de posição no seu dia a dia, com a dança da Terra, mas não deixa de ser uma fonte de vida e calor. No entanto, no calor da mudança até os corpos podem gelar…de tédio acomodatício. É urgente remexer nos acomodados, nos que mudam de sentido mas não de vida. Se o mobilismo é mudança, mudem-se então as vontades, essencialmente as vontades de não mudar de vida. Mudança precisa-se…urge mudar tanta coisa, para que se mudem os que teimam quedar-se mudos.
    Apesar dos longos silêncios, não emudeço as palavras do quotidiano, e sonho que um dia a pacífica guerra dessas palavras, consiga revolucionar o verdadeiro contexto da existência humana, despertando milhares de consciências submersas num imobilismo doentio.
    Acordemos e mudemos!

    Felicidades para si e todos os seus mais queridos. Bom 2014.

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  2. Caríssimo dbo,

    Sempre acertadas as suas palavras e sempre as leio com gosto, apesar de esparsas.

    Agradeço os seus votos, aqui e no UJM. Muito obrigada.

    Espero que, para si e para os seus, 2014 seja um ano muito bom. Saúde e felicidade é o que vos desejo.

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