Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

05 dezembro, 2013

E que a minha loucura seja perdoada porque metade de mim é amor e a outra metade também.


Metade de mim é partida, metade de mim é saudade. Metade de mim é abrigo mas a outra metade é cansaço. Metade de mim é o que eu grito mas a outra metade é silêncio.

E que a minha loucura seja perdoada.




Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
pois metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza
que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
mesmo que distante
porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que falo
não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimento
porque metade de mim é o que ouço
mas a outra metade é o que calo

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço
que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que penso
e a outra metade um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
que me lembro ter dado na infância
porque metade de mim é a lembrança do que fui
e a outra metade não sei

Que não seja preciso mais que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o teu silêncio me fale cada vez mais
porque metade de mim é abrigo
mas a outra metade é cansaço

Que a arte nos aponte uma resposta
mesmo que ela não saiba
e que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
porque metade de mim é platéia
e a outra metade é a canção

E que a minha loucura seja perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade também.


[Pedro Lamares diz Metade de Oswaldo Montenegro]

*


Metade dita pelo próprio Oswaldo Montenegro.



4 comentários:

  1. Metades que se complementam, mau é quando se afastam.

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    1. Ou que não se chegam a encontrar. Penso muitas vezes nisso, na coincidência de se descobrir uma metade no meio de milhões. Tantas vezes é obra do acaso - e pode acontecer que o acaso não cruze os caminhos das duas metades.

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  2. Gosto muito deste poema. Tenho-o no meu blogue, dito pelo Oswaldo Montenegro, mas num outro vídeo.
    Acho-o lindíssimo!
    Um beijinho

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    1. É uma maravilha. Não conhecia, encontrei-o ontem por acaso. Como ando a escrever pelos cotovelos no UJM, tento colmatar a minha falta aqui colocando vídeos e, agradavelmente, descubro sempre coisas maravilhosas. A internet é um mundo incrível!

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