Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

26 novembro, 2013

Por dentro do perfume das flores já não anda a tua boca


Onde andas, amor meu, que já não beijas os meus lábios? Onde andas que já não vens cheirar a curva do meu pescoço, que já não vens comigo olhar as gaivotas? Que já não me embalas nos teus braços nem me levas a ver as estrelas?

Achas bem deixares-me assim, sem chão, sem amparo, sem o teu calor, sem o teu amor?

Passeio por aqui e sigo o voo solitário da gaivota. Sou eu que por ali ando, procurando-te, chamando por ti, soltando suplicantes gritos, chorando lágrimas que ninguém vem secar?

Ai amor que me deixaste tão triste.

Por aqui vou, gelada, sozinha. Mais à frente um cão abandonado olha-me, oferecendo-me a sua companhia. Mas afasto-me. Não posso ficar com qualquer um porque não é qualquer um que pode ocupar o teu lugar. Porque me abandonaste? Porque não esperaste por mim? Pudesse eu voar para te procurar pelos céus, pelos mares, pelos montes, pelos infinitos labirintos onde te perdeste de mim, amor. Ai tão triste que estou, amor.



[Abaixo do Ginjal envolto num frio frio e perfumado a maresia, um poema de José Gomes Ferreira e, logo abaixo, mais uma grande interpretação do violinista Benjamin Schmid]



Manhã fria no Ginjal


                                         
                                          Por dentro do perfume das flores
                                          já não anda a tua boca
                                          a beijar as estrelas
                                          na cor do silêncio
                                          - para além do gosto agudo das mucosas.

                                          Agora no luar caído
                                          só uma cadela de gelo
                                          morde o perfume das rosas...


                                          [(Desvio lírico do problema) de José Gomes Ferreira in Poesia III]


Sem comentários:

Enviar um comentário