Esta quarta feira levantei-me com o nascer do sol, o rio suave banhado a rosa, um ou outro barquinho branco como um brinquedo. Tive vontade de me pôr a fotografar, tão bela a vista que me banhava o olhar. Mas estava com pressa, não o pude fazer.
Depois, na estrada, o chão em vez de verde estava prateado, coberto pela frialdade da noite. Fui deslizando pela manhã, acompanhada pela música na rádio, a antena 2, e pelos meus sonhos. Sozinha no carro, era como se a noite ainda ali se estendesse suave ao meu lado, sonhos bons, metáforas delicadas, e eu vou andando, olhando a paisagem, os campos, as casas, as árvores. Tão agradável, tanta serenidade.
Penso muitas vezes que talvez eu fosse capaz de viver retirada, no campo, entre árvores, contemplando a terra - uma vez são flores, agora rebentam tenros cogumelos outras vezes são folhas, ramos, musgos, pedras. O que sou eu mais do que qualquer destas coisas? Sinto-me tão próxima de tudo isto. Tenho mais afinidades com um cedro, com o alecrim, com o musgo verde e macio, do que com tanta gente que por aí anda. Sentar-me num recanto, acolher-me aos braços de uma árvore, deixar-me estar. Que bom deveria ser, que desejo gostoso este o meu.
[Abaixo de um resto de árvore, como se fosse um resto de pele, um poema muito belo de Armando Silva Carvalho. Logo abaixo um momento de graça e generosidade: o grande Jorge Palma com dois jovens: Encosta-te a mim.]
A pele seca de um eucalipto caída na estrada que leva ao Ginjal |
Acordo
mais um dia
com ele o turvo e torpe véu sedento
do desejo.
Não me doem as costas
a matéria dos sonhos ainda me persegue
translúcida no quarto.
Só o peso do chão
do negro chão da espera
se estende espesso a meu lado como mundo
e metáfora.
Agora que o Outono as desnudou é tempo de envolver as árvores num abraço.
ResponderEliminarAbraços vagarosos
:)
Pois é, jrd, sentir a macieza morna da madeira.
ResponderEliminar(Gostei do seu comentário: é mesmo isso que diz)