Pelo batimento do meu coração percebo que talvez tenha passado por aqui aquele pelo qual ele tanto bate.
Há quem diga que no peito tenho uma ferida, sangue escorrendo, silêncio, um doloroso vazio. Não é verdade. Dentro de mim tenho um coração fremente, saudoso, é certo, mas ansioso. Ponho a mão no peito e sinto-o, quase o ouço, peço-lhe que se aquiete. Tenho vontade de lhe dizer que o dono já vem.
Há quem diga que no peito tenho uma ferida, sangue escorrendo, silêncio, um doloroso vazio. Não é verdade. Dentro de mim tenho um coração fremente, saudoso, é certo, mas ansioso. Ponho a mão no peito e sinto-o, quase o ouço, peço-lhe que se aquiete. Tenho vontade de lhe dizer que o dono já vem.
Por aqui percorro estes caminhos, procuro nas águas marcas de quem por aqui passou, pegadas, palavras esquecidas, procuro nas paredes sombras, restos de abraços, umas letras riscando a superfície. Talvez descubra algum fiapo que me leve até aquele de quem um dia fui tão próxima. Quem tão pouco tem, a qualquer coisa se agarra com esperança.
De dentro das casas em ruínas vêm suspiros, respirações, sons inesperados. Talvez sejam gatos amando-se na noite, talvez sejam apenas sombras procurando os corpos de onde se desprenderam. Por vezes detenho-me. Tento perceber que sons são aqueles mas depois afasto-me e quase corro, tenho medo, não sei que vultos são estes, que vozes são estas que vêm de tempos muito antigos, que escondem segredos sem perdão. Mas volto sempre: pode ser que um dia reconheça a voz daquele de quem o meu coração tantas saudades tem.
[Abaixo dos reflexos e das sombras do cais rente ao Tejo, um poema de José Alberto Oliveira deixa um rasto de inquietação que atordoa o coração e, logo a seguir, estreia-se uma grande intérprete, Cecile McLorin Salvant. É o jazz de volta ao Ginjal.]
O Ginjal à noite, o cais dos cacilheiros |
Há vozes onde se espelha
a vastidão dos séculos
e os segredos mais subtis
da Natureza; há sintomas,
sinais, pégadas nos caminhos
do deserto, que evocam
inquietações tão fundas
que se corre o risco de ficar
atónito, a tropeçar na pauta
de uma história, que se teima
em não esquecer. Consegue-se,
então, ouvir a pausa que separa
os batimentos do coração.
Suspender a vida entre dois batimentos, um intervalo na esperança de recuperar o tempo.
ResponderEliminarAbraço
As vidas infelizes dão muitas vezes fantásticos personagens. Mas é melhor que sejam mesmo apenas personagens porque, suspensões da vida assim, na vida real, dão geralmente vidas muito sofridas.
ResponderEliminarQuando me ponho na pele de tristezas assim quase fico triste de verdade, de tal forma a solidão é avassaladora (mesmo que não passe de ficção).
Um abraço jrd!