Fecho os olhos e vejo. No meu jardim corre um rio e através das ramagens das árvores eu vejo os veleiros que passam como pássaros brancos voando num céu azul.
Detenho-me respirando o ar fresco e sonho com palavras límpidas e esqueço a realidade e a frieza que, sem que eu o queira, teima em chegar até mim.
Levanto-me de mim própria, desligo-me de raízes ardilosas, esqueço preconceitos, deixo que os anjos me toquem, que as grandes aves me transportem, que os deuses bondosos que me têm nos seus doces braços me embalem. Sou eu e o momento, sou eu verdadeiramente eu, livre, una, nua, eu e a natureza, uma árvore, um rio, o céu, palavras luminosas, voos sonhados, pássaros, eu, com cestos de flores, frutos e memórias nos braços e no peito mas eu, de pé no presente, olhando de frente o futuro, sempre pronta para entrar, feliz, no desconhecido.
[Abaixo dos veleiros que voam no céu do meu jardim, temos um poema de Armando Silva Carvalho e, logo a seguir, um compositor que se estreia aqui, um compositor que me desafia, Luciano Berio]
Veleiros no Tejo, este domingo, vistos através das ramagens das árvores do Jardim do Ginjal |
Sempre passei a vida entre o poema
e a vida entre o amor
e a fábula.
E sempre que colhia
esses espaços de luz precipitada
eu via a voz de deus
alevantada
entre mim e o nada que sorria.
[Poema de Armando Silva Carvalho in Canis Dei]
Só mesmo de olhos “bem” fechados...
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