Ando pela cidade, percorro as estreitas ruas, piso as pedras da calçada, sigo o teu rasto.
Becos, vielas, muralhas, pátios e eu procurando, aspirando o ar, para ver se encontro o teu perfume, o meu nome escrito numa parede, o meu coração sangrando por ti, vestígios do teu amor por mim. Não, nada.
Mais à frente, um banco de jardim, talvez lá estejas. Mas não. Olho em volta. Nada.
Mas eis que, de repente, começo a ver que o céu se alarga. E vejo, à frente, flores do campo, inocentes como meninas numa roda. E as meninas louras dançam ao vento e delas vem um perfume que se mistura com a maresia que sobe do rio muito azul que corre lá em baixo.
Sorrio. É então aqui que estarás, menina alegre, noiva coroada de flores, no meio das espigas neste dia da ascenção, é aqui que estás, envolta em luz.
Apresso o passo, chamo por ti. Mas não me respondes.
Olho. Levanto o meu olhar na direcção da luz doce, perfumada, suave.
E, então, vejo-te, voando sobre o rio, branca, longas asas, aberta como uma bandeira de alegria. Vens, voas na minha direcção, deslizas, e sorris, rendida, feliz.
Sonho? É o meu coração que sonha?
[Abaixo das flores do campo voando sobre o rio, poderão ver mais um belo poema de um Poeta que aqui tem assento especial, Pedro Tamen. Logo abaixo, Ali Farka Touré chega com o seu encantamento luminoso. É Dia de Espiga.]
Na Boca do Vento sobre o Ginjal, de frente para Lisboa, o Tejo pelo meio |
Entro na floresta, sigo por entre
os ramos, vou pelos caminhos
que tu própria me indicas,
e chego enfim à líquida presença
do coração sonhado:
rendo-me
na tua rendição, e a bandeira
é branca de alegria.
[Poema 12 de Pedro Tamen in Rua de Nenhures]
***
Escrever
O teu rosto
A sombra exacta dos teus seios
A dimensão líquida da tua pele
Na planície branca
Do meu poema.
Mar de palavras
Sempre desfeito
Pelo ruído desajeitado
Da minha sede.
[Poema de Joaquim Castilho em comentário aqui abaixo]
Olá UJM!
ResponderEliminarPrometo-lhe que vou parar para não monopolizar os comentários com a minha versalhada!
Mas os seus belos textos são uma "provocação" !
Para despedida:
Escrever
O teu rosto
A sombra exacta dos teus seios
A dimensão líquida da tua pele
Na planície branca
Do meu poema.
Mar de palavras
Sempre desfeito
Pelo ruído desajeitado
Da minha sede.
Um abraço
Joaquim,
EliminarNão me diga uma coisas dessas. Se há surpresas meus que eu tenha, são poemas escritos pelos Leitores inspirados pelo que escrevo. Os seus captam sempre o espírito, é como se as minhas palavras se vissem ao espelho e se achassem mais bonitas.
Por isso, por favor, não deixe de escrever por qualquer outro motivo que não a sua falta de vontade para o fazer.
Os seus poemas - já sabe - são sempre aqui muito bem vindos. Ou melhor, são muito estimados.
Muito obrigada pelo poema de hoje que espero bem que NÃO seja o último...