Aninhas, minha linda, tão fofinha, tão miguinha do teu quidinho... Aninhas, linda, linda menina, minha gatinha, vem aqui fazer rom-rom ao pé do teu cãozinho. Vem, Aninhas, minha quidinha, vem aqui dar uma lambidela no teu cãozinho, vem, quidinha, vem que eu não te mordo, Aninhas.
Aninhas, minha prendada mulherzinha, mais linda, mais lindinha, tão meiguinha, tão sossegadinha, tão poupadinha, tão caladinha, vem, vem aqui ao pé do teu gatão, deixa que eu te faça uma festinha, deixa, deixa lá, ó Aninhas..
Aninhas, minha docinha Aninhas, tão lavadinha, tão perfumadinha, deixa-me cheirar os teus peitinhos, Aninhas, deixa que eu tenho muito cuidadinho, deixá lá, ó Aninhas, deixa-me lá ver e cheirar os teus peitinhos branquinhos e lavadinhos, ó Aninhas.
Aninhas, gatinha, anda cá, vem dar-me uma dentadinha, vem, que eu não sou nenhum lobo mau. Vem, Aninhas, que eu só te quero dar beijinhos, está calminha que eu não sou o lobo mau, tenho a boca grande, Aninhas, mas não é com a boca que te vou comer, ó Aninhas.
Vá lá, Aninhas...
... Mas então que é lá isso, ó Aninhas?! Mas que gatinha tão malandrona, Aninhas... Mas que tigrêzinha me estás a sair, Aninhas...
Mas, ó Aninhas, espera lá, então, que é lá isso, Aninhas, mas isso são lá maneiras de te portares, ó Aninhas?! Quase pareces uma cadela, ó Aninhas, e das que têm cio, ó Aninhas...
Cala-te lá, ó Aninhas, ou, ao menos, baixa o volume, ó Aninhas... A miares e a latires dessa maneira, ó Aninhas, ainda desinquietas a vizinhança inteira, ó Aninhas. Ai, Aninhas, ai, ai...
...
Uff.... Bolas, Aninhas que dás cabo aqui do tigrão... deixa-me respirar, Aninhas...
E olha lá, ó Aninhas, que é lá isso de andares a escrever o A de Aninhas aí pelas paredes, todo floreado, todo prosa, todo letra francesa, mas a dar ares aqui do teu amiguinho, ó Aninhas, sua ganda maluca?
[Bem. Passando agora às coisas sérias. Abaixo da letra A desenhada com grande estilo, temos mais um poema de Helder Moura Pereira, desta vez um contido no seu último livro. Abaixo, dá-se início a uma semana dedicada a um grande intérprete de jazz, Chick Korea e começa logo em grande, com uma composição de Tom Jobim - e mil vezes obrigada ao Leitor tão amigo que adivinha os meus pensamentos e me enviou tão desinteressadamente esta sugestão (esta e as seguintes!)]
Pintura rupestre numa das paredes do Ginjal |
Tu para quem qualquer cão
é lobo, qualquer gato
é tigre, transformas-te
em lobo e tigre mal chegas
à cama. O fenómeno chegou
a suscitar debates domésticos
dos que se prolongam pela noite
dentro e aventou-se até
a hipótese de uma ida ao médico
da cabeça. Não chegou a ser
preciso, uma vez que a cama
era suficiente divã: não havia
palavras, só latidos, miados
e uma gritaria desmedida.
['Tu para quem qualquer cão' de 'Uma ideia da coisa', poema de Helder Moura Pereira in 'Pela parte que me toca']
Cara UJM,
ResponderEliminarna realidade, a sumptuosamente fálica e estilística “pintura rupestre” da parede do Ginjal é um verdadeiro A (quero dizer Ah!) capaz de aninhar qualquer Aninhas, mesmo sem haver ninho.
Direi que parecem ninharias, mas não, “nim” são. Os diminutivos e o carinho lavrado nas palavras, fazem e têm muito sentido. E não será razão para ninguém ficar sentido, qualquer que seja o sentido da “fofinha Aninhas” ou mesmo do seu gatão.
Como já asneirei o suficiente, desejo-lhe, e a todas as Aninhas, com ou sem gatão, muita saúde e felicidades.
Olá dbo,
EliminarEstou aqui a rir de gosto com o seu Ah! e com as suas observações dedicadas a todas as Aninhas deste mundo e a quem se queira juntar a ela.
Haja alegria, não é?
Eu, por vezes, farto-me de rir com as parvoíces que me ocorrem e como, nestas alturas, me vejo desprovida de censura interna, escrevo tudo (... enfim, quase tudo...)
Agradeço a sua boa disposição e os votos. Retribuo em igual medida!
O seu Ginjal é uma fonte de inspiração e imaginação! Aqui tem asas para voar bem alto, como as gaivotas e dar-nos estes textos cheios de alegria, fantasia e magia. Gostei imenso, está claro!
ResponderEliminarUm beijinho e prometo ser mais assídua...