Não sei o que há dentro dos grandes espaços vazios. Não sei se há monstros, fantasmas, espíritos. Não sei. Talvez apenas sombras. Talvez a alma de quem ali esteve e partiu.
Mas gosto de espreitar, gosto de imaginar.
Gostava de ter coragem para entrar. Não tenho. Tenho medo que me agarrem, que não me deixem sair, tenho medo nem sei de quê. Por isso mantenho-me do lado de fora, espreito como uma menina, espreito com medo que uma mão escondida me puxe. Medo de ter medo.
Paredes destruídas, traves tombadas, telhados sem telhas. Nada. Onde antes houve vida agora nada. Onde antes havia vozes, sorrisos, agora há silêncios. Nada.
E, no entanto, a seguir há a luz. O imenso céu. A vida.
[Abaixo do poema de Gonçalo M. Tavares que aqui veio hoje pela primeira vez, o grande momento de duas vozes que se unem em volta de Pergolesi, interpretando Stabat Mater Dolorosa]
Ruínas no Ginjal, espaços vazios através dos quais se vê a luz |
A minha Religião é o Novo.
Este dia, por exemplo; o pôr do sol,
estas invenções habituais: o Mar.
Ainda:
os cisnes a ralhar com a água. A rapariga mais bonita que
ontem.
Deus como habitante único.
Todos somos estrangeiros a esta Região, cujo único habitante
verdadeiro é Deus (este bem podia ser o rótulo do nosso
frasco).
Dele também se podia dizer, como homenagem:
Hóspede discreto.
Ou mais pomposamente:
O Enorme Hóspede discreto.
Ou dizer ainda, para demorar Deus mais tempo nos lábios ou
neste caso no papel, na escrita, dizer ainda, no seu epitáfio que
nunca chega, que nunca será útil, dizer dele:
em todo o lado é hóspede,
e em todo o lado é Discreto.
[A Minha Religião é o Novo' de 'Gonçalo M. Tavares, in "Investigações. Novalis"
ResponderEliminarQuerida UJM
Esta fotografia é uma obra de arte. As cores, a profundidade, a luz... E as palavras que a acompanham fazem-nos entrever um outro mundo, já extinto, com muitas histórias dentro, histórias por contar. Pela sua mão, o velho se tornou novo e uma nova alma se hospeda nessas ruínas.
Bela a escrita de Gonçalo M. Tavares.
Uma Feliz Páscoa.
Beijinhos
Olinda
De cruz, assino comentário anterior.
ResponderEliminarA.S.
Tantos são os Cristos
ResponderEliminarno chão das marés