Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

12 março, 2013

e nós, meninas, bailaremos i


Podíamos dançar, vem, vem valsar. Deixa-me levar-te por aqui a rodopiar, deixa-te ir, deixa que te leve, meu amor, vem valsar. Vamos valsar até à beira do rio. Vamos?

Ou podíamos ir banhar-nos. Vem. Vem comigo até ao rio, vem. Despíamo-nos, deixa que te dispa, deixa-me ver o teu corpo a entrar na água, deixa que veja os teus seios, deixa que veja os mamilos erectos, rosados e erectos de frio, deixa. Vamos, entramos na água, beijamo-nos na água. Vamos?

Ou poderíamos voar, pousar numa árvore, deixar que os nossos cabelos esvoacem como pássaros livres, os cabelos esvoaçando juntos, asas de vento, almas à solta. Vamos?

Podíamos ficar aqui até ser manhã, dançar, mergulhar, voar. Podíamo-nos amar aqui, meu amor, minha linda, tão bonita que és. Beija-me, abraça-me, toma-me nos teus braços, vamos voar, vamos bailar as duas, meninas bailarinas as duas i. Vamos?



[Logo a seguir a mais um belo poema de Catarina Nunes de Almeida, temos uma nova grande interpretação de Mischa Maisky, desta vez sobre música de Shostakovich]


O fim do dia no Jardim do Ginjal, rente ao Tejo



                                          O único maremoto de que há memória
                                          aconteceu nos teus cabelos que hoje são lisos
                                          e deixam a água pelos tornozelos
                                          até ser de manhã.

                                          agora até a terra passou.
                                          Cruzam-se valsas e expedições na curva do seio
                                          a música não cabe na boca das aves

                                          e nós, meninas, bailaremos i.



                                          [Poema de Catarina Nunes de Almeida in Bailias]


4 comentários:

  1. Cara UJM,
    Eis a humana loucura, no pleno usufruto da vida: terra (dançar), água (banhar) e ar (voar).
    Com ou sem meninos/-as, mantemos o sonho de nos libertarmos e darmos azo ás nossas fantasias, num quotidiano quase cruel, que nos prende ao humanamente correcto. Mas obviamente concordo que numa jornada a dois a libertação é mais completa, o sonho torna-se mais realidade.

    Muita saúde e sonhos que virem realidade!

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    1. Olá dbo,

      Naquela tarde eu estava a fotografar de longe, como costumo fazer para que não se vejam os rostos, para que não haja hipótese de identificar. Depois quando nos aproximámos, vimos que eram duas raparigas ambas de longos cabelos que se beijavam apaixonadamente. Nós passámos e elas ali estavam, um casal apaixonado aos beijos. Depois, quando nós já estávamos a regressar vi-as, eram duas raparigas alegres, aspecto feminino, que iam para casa depois de uma tarde de intenso namoro.

      Quando estava a escolher um poema para pôr aqui, dei com este e pareceu-me feito de propósito para este amor entre estas duas meninas.

      É um tema no qual não me sinto muito à vontade mas, para todos os efeitos, é um amor, uma atracção física, ali num jardim à beira rio e, por isso, é um amor tão bonito como todos os amores, não é?

      E que o sonho delas, seja qual for, se torne realidade.

      Muita saúde e felicidade para si e para os seus, dbo!

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  2. Com um abraço, a sua permissão, UJM, para que lhe retribua um pouco do imenso prazer, aqui e agora, proporcionado



     Cantigas Medievais Galego Portuguesas


    A.S.


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    1. Olá A.S.,

      Já estou a ouvir. Muito obrigada. Não conhecia. As coisas que eu fico a conhecer, que prazer que isto me dá.

      Agradeço-lhe muito.

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