Sente a maresia, sente a frescura.
Sinto. E tu sente esta luz suave, silenciosa.
Sinto. E já viste aquele barco? Que barco tão bonito, tão elegante, repara nos mastros, que beleza.
Sim, já vi. Gostava de o ver com as velas içadas.
Assim também é bonito, só os mastros.
...
Não digas nada. Deixa-te ficar aqui ao meu lado, só assim, ao meu lado, deixa-me sentir o calor que vem de ti, é um calor bom, cheira bem, é quentinho.
Sim, não me mexo. Gosto tanto de estar aqui, contigo. Tanta vida nós já percorremos, os dois. Já pensaste nisso?
Já. Estás bonita, assim, iluminada. Estás mais bonita agora do que quando te conheci.
...
Não rias. É verdade. Linda, suave. Minha amiga.
...
Não rias. Encosta-te a mim, quero sentir-te.
Vá lá, não sejas maluco, tem juízo. Chega-te para lá.
...
Olha que se vê.
Não vê nada. Não vês que andam todos a andar ou a correr ou a andar de bicicleta? Quem é que vai olhar para nós?
Pára. Tem juízo.
Não páro nada. Melhor: vamos embora. Vamos para o quarto. Quero-te vestida de branco como no primeiro dia. Virgem.
Virgem?!?
Para mim eras. Virgem, inocente, linda. Ainda és. Virgem, puríssima. Anda, vai vestir-te de branco.
És maluco.
Pois sou. Mas como dizes que só gostas de malucos estou com sorte.
...
Ficas tão linda assim, a rir. Gosto tanto de te ver tão linda, tão menina, tão cheia de sol.
Então, vá lá, vamos. Visto o meu vestido branco...
Nada por baixo.
Claro. Eu só disse: o vestido branco. Abro as cortinas para que o sol entre no quarto. Depois inventamos uma música e eu danço para ti, o vestido voará à minha volta. Depois, quando a música acabar, tu aproximas-te e tiras-me o vestido, o sol na minha pele. Está bem assim?
Talvez. Vamos lá tirar isso a limpo.
...
...
[Dia de livro novo de Pedro Tamen é dia de alegria aqui no Ginjal. E abaixo do poema retirado desse belo livro, começamos a desfrutar o som do violino de uma nova grande intérprete, Julia Fischer, hoje com Mendelssohn]
O Tejo visto do Parque das nações |
Quero-te de branco,
ou antes, modelada
nas roupas que cosesses
das bonecas, nos saltos,
nos baloiços, nos degraus
de uma porta qualquer donde saísses.
Quero-te de branco e intocada,
carregada porém dos anos buliçosos
e das vidas ausentes.
De branco, meu amor,
e de tão branco
que me desses o mundo em luz de sol.
['Quero-te de branco' de Pedro Tamen in Rua de Nenhures]
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