Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

02 janeiro, 2013

De que armas disporemos, senão destas que estão dentro do corpo


Não estou indefesa e tu também não. Se alguém pensa que, contra nós, tudo pode, está muito enganado. 

A mim dificilmente me vencem. Estou armada até aos dentes.

Tenho armas fortes, brutais. E tu também. Aponta-me uma arma ao peito que eu rir-me-ei e seguirei em frente, indiferente, segura. 

Fracos são os ignorantes da sua força. Fracos são os medrosos. Fracos são os que se deixam vencer. Fracos são os que se sentam na margem a chorar a derrota ainda antes dela acontecer.

Aqui, diante de vós, com muito orgulho, apresento-vos as minhas armas. Não as deponho, apenas as apresento. Eis, aqui estão: o meu pensamento, as minhas convicções, os meus princípios, a minha vontade que dificilmente se verga, a minha crença nos outros, o meu respeito pelos bens comuns, a minha força anímica, o meu amor pelas pessoas boas e a minha solidariedade pelos indefesos. Por tudo isto me baterei sempre, sempre, sempre. Com estas armas sinto-me forte e imbatível. Com elas defenderei a minha terra, a minha casa, os meus amigos, os meus irmãos, os meus amores.

Não é muito, eu sei. Mas é o que tenho. É um princípio. De que armas disporemos, senão destas que estão dentro do corpo?

Se todos apresentarmos as nossas armas, venceremos os cobardes que nos afrontam. 

E, agora que já as viste, vou, de novo, recolher as minhas armas, elas são-me preciosas.



[Abaixo, poderão ver um dos vários poemas de Hélia Correia concebidos a pensar na Grécia. A música não tem nada a ver, é apenas uma bonita canção interpretada por dois bons intérpretes, Carminho e Chico Buarque]


Ginjal num dia de Tejo espelhado e de ar dourado


                               De que armas disporemos, senão destas
                               que estão dentro do corpo: o pensamento,
                               a ideia de polis, resgatada
                               de um grande abuso, uma noção de casa
                               e de hospitalidade e de barulho
                               atrás do qual vem o poema, atrás
                               do qual virá a colecção dos feitos
                               e defeitos humanos, um início.


                               [Poema 33 de Hélia Correia in 'A Terceira Miséria']

2 comentários:

  1. Temos as mesmas armas, por isso nos entendemos.
    Abraço
    :)

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    1. E como nós muitas há. É preciso é que as mostrem e se mostrem seguros.

      Como é que gentinha como estes que para aí andam a dar cabo do país ainda se aguentam? Custa a perceber. Bastaria que todos os que o cercam lhes virassem as costas. Ficariam impossibilitados de trabalhar (se é que se pode chamar 'trabalhar' ao que andam a fazer).

      E fico contente por partilharmos as mesmas armas (ie, as mesmas ideias).

      Um abraço, jrd.

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