Quando vier o sol, os pêssegos estarão dourados e a tua pele também. A pele dos pêssegos estará macia, uma penugem loura, doce, e a tua pele também.
Quando vier o sol, os frutos estarão tenros, os gomos carnudos e sumarentos, muito doces. Tu também. Carnuda e sumarenta como eu gosto, saborosa na minha boca.
Quando vier o sol, o feno está maduro, dourado, bom para nos deitarmos em cima dele. Tu também, madura, dourada e macia e eu deitar-me-ei em cima de ti.
Quando vier o sol, o rio ficará brilhante, quieto, uma cama de água macia, linda, e nela navegarão os veleiros. Tu também, brilhante, quieta, macia e eu em ti navegarei.
Agora está frio, eu estou sozinho, e as camisolas não guardaram o teu cheiro. Espero o calor do verão. Até lá continuo sem olhar para trás.
Sei que virás com o calor, meu amor. E eu já sonho com o teu aroma carnudo, doce, com o sabor quente dos teus lábios, meu amor.
[A seguir ao poema de Maria do Rosário Pedreira, uma música que traz bem o espírito de um verão com que se sonha, um sonho carregado de promessas de amor]
Subindo a estrada que vai do Ginjal à Boca do Vento, em Almada antiga |
Não é ainda a pele, apenas
um rumor de lã nas camisolas, um recado
a lembrar tardes no feno, linho lavado, o sol
mordendo um rio pela manhã ―
assim a distância entre a minha mão e o pessegueiro.
Na estrada
as flores demoram-se até às laranjas,
mas o aroma do pomar faz sede e os olhos cegam
na promessa de gomos novos e doces, os mais doces. Talvez
por isso se continue a viagem sem olhar para trás.
[Poema de Maria do Rosário Pedreira in Poesia Reunida]
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