Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

18 dezembro, 2012

As coisas do universo são também feitas de vidro, mas soprado


De entre todas as coisas, procuro as transparentes, as que se deixam tocar, as que deixam entrar e passar e a luz.

De entre todas as coisas recolho as que foram moldadas pelo mundo, pela vida, pelo tempo. Procuro as afáveis, as que recolhem os olhares, as palavras de amor.

Um pedaço de pedra, um pedaço de erva, a sombra de um pássaro, o rasto de um navio, o olhar de um gato, uma névoa branca e molhada. Ou o silêncio.

De todas as coisas, escolho as que se confundem com o espaço, as que voam, as que dançam nas minhs mãos, no meu pensamento, as que entram no meu coração.

De todas as coisas transparentes e perfeitas, eu guardo dentro de mim as palavras que me disseste, o teu nome, o meu nome sussurrado ao meu ouvido, o sopro da tua respiração, o bater do teu coração. E o silêncio. 



[Abaixo das minhas palavras que falam de amor, a fotografia do homem que procura coisas perfeitas e, abaixo dele, o poema de Inês Fonseca Santos que fala das coisas do universo e de um certo amor, e mais baixo ainda, logo a seguir, o Salut d'amour de Elger. Estamos, pois, em dia sim] 



Jardim do Ginjal, sobre o Tejo, de frente para Lisboa



                                 São também feitas de vidro,
                                 mas soprado. As coisas do universo habitam
                                 o espaço frio de um nome redondo. Chamam-lhe
                                 esfera. Nenhuma palavra, nenhuma lembrança a parte.
                                 Ensinou-me o poeta a teoria das cordas. Espreito
                                 à transparência da esfera. Os sons não me dão o entendimento das coisas
                                 do universo, apenas do teu nome. Guardo na boca
                                 o gelo da língua
                                 ao pronunciá-lo.

                                 Assim me calo.



                                ['As coisas do universo' de Inês Fonseca Santos in 'As coisas']


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