Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

15 outubro, 2012

Que o teu seio se desvele, que a tua mão, suada e suave, se entregue


A mulher espera um homem nesta tarde azul, espera-o junto ao rio que lhe lava o olhar. Lava-se toda olhando este azul tranquilo para que ele, o seu amor, a encontre de olhar lavado, limpa, límpida.

Olha o céu que reflecte o azul do rio, olha o navio que se vai, olha a ponte ao longe. Olha e espera-o.

Virá, ela sabe. Virá e olhará os seus olhos de amor, olhará a sua boca, olhará os seus seios, olhará as suas pernas, olhará a curva da sua anca, o segredo do seu decote. Chegar-se-á e aspirará o perfume do seu cabelo, o perfume do seu pescoço, o perfume dos seus seios. 

E ela deixará que ele se chegue, que a cheire, que a olhe, que a desvende, que percorra o seu corpo todo com o olhar, com as mãos, com o corpo.

Talvez até ele nem tenha que vir, talvez ele nem tenha que fazer nada, talvez ela suba a rua pela tarde, suba o rio, vá no navio que desliza, vá até onde o seu amor a espera. E talvez o encontre puro e desvalido, talvez o encontre incendiado, a voz silenciosa, tomada pelas rosas do desejo. Talvez, então, ela se descubra perante ele, e suave, suavemente derrame sobre ele o mel, o fogo, o orvalho da maresia, os perfumes da floresta, os beijos, a pele, a seiva, o sangue mais puro do amor.

Porque assim é o amor, secreto, sereno, puro.



[Abaixo do belo poema que copiei do blogue Homo Viator, poderão encontrar uma música de um compositor que desconhecia e que um Leitor, em boa hora, me deu a conhecer, Franz Biber]



Junto ao Tejo vendo as águas que correm, o tempo que passa



                              Que o teu seio se desvele, que a tua mão,
                              suada e suave, se entregue, que a tua boca
                              se abra, e língua e lábios sejam mel, fogo,
                              orvalho matinal, o ar da floresta.

                              E pura e desvalida, te entregues,
                              na noite fria e calma, ao desejo
                              que os teus olhos nos meus incendiaram,
                              que os seios brancos e cálidos atearam.

                              Espero-te na tarde azul e pálida.
                              Uma ânsia fere o peito, rasga-me a pele,
                              rompe-me as veias e o sangue frio se esvai.

                              Quando oiço os teus passos, quando a voz,
                              serena e pura, chama já por ti,
                              uma rosa de seda ergue-se em mim.


['Que o teu seio se desvele, que a tua mão' de Homo Viator no excelente blogue homónimo aqui]

4 comentários:

  1. Transferências à flor da pele.

    Abraco

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    1. Engraçado o que diz. Fiquei a pensar. E sim, tem razão, de transferências à flor da pele se trata. Gostei. Aliás gosto sempre de coisas pouco óbvias.

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  2. Lindo o seu texto e belo o poema de Homo Viator sobre os segredos do amor.
    Gostei muito.

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    1. Muito obrigada. Gosto muitos dos poemas deste autor. São sempre belíssimos. Escreve sobre o amor, sobre o silêncio, sobre o desânimo, sobre a vida. A regularidade e a qualidade dos poemas dele é impressionante.

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