A mulher espera um homem nesta tarde azul, espera-o junto ao rio que lhe lava o olhar. Lava-se toda olhando este azul tranquilo para que ele, o seu amor, a encontre de olhar lavado, limpa, límpida.
Olha o céu que reflecte o azul do rio, olha o navio que se vai, olha a ponte ao longe. Olha e espera-o.
Virá, ela sabe. Virá e olhará os seus olhos de amor, olhará a sua boca, olhará os seus seios, olhará as suas pernas, olhará a curva da sua anca, o segredo do seu decote. Chegar-se-á e aspirará o perfume do seu cabelo, o perfume do seu pescoço, o perfume dos seus seios.
E ela deixará que ele se chegue, que a cheire, que a olhe, que a desvende, que percorra o seu corpo todo com o olhar, com as mãos, com o corpo.
Talvez até ele nem tenha que vir, talvez ele nem tenha que fazer nada, talvez ela suba a rua pela tarde, suba o rio, vá no navio que desliza, vá até onde o seu amor a espera. E talvez o encontre puro e desvalido, talvez o encontre incendiado, a voz silenciosa, tomada pelas rosas do desejo. Talvez, então, ela se descubra perante ele, e suave, suavemente derrame sobre ele o mel, o fogo, o orvalho da maresia, os perfumes da floresta, os beijos, a pele, a seiva, o sangue mais puro do amor.
Porque assim é o amor, secreto, sereno, puro.
[Abaixo do belo poema que copiei do blogue Homo Viator, poderão encontrar uma música de um compositor que desconhecia e que um Leitor, em boa hora, me deu a conhecer, Franz Biber]
Junto ao Tejo vendo as águas que correm, o tempo que passa |
Que o teu seio se desvele, que a tua mão,
suada e suave, se entregue, que a tua boca
se abra, e língua e lábios sejam mel, fogo,
orvalho matinal, o ar da floresta.
E pura e desvalida, te entregues,
na noite fria e calma, ao desejo
que os teus olhos nos meus incendiaram,
que os seios brancos e cálidos atearam.
Espero-te na tarde azul e pálida.
Uma ânsia fere o peito, rasga-me a pele,
rompe-me as veias e o sangue frio se esvai.
Quando oiço os teus passos, quando a voz,
serena e pura, chama já por ti,
uma rosa de seda ergue-se em mim.
Transferências à flor da pele.
ResponderEliminarAbraco
Engraçado o que diz. Fiquei a pensar. E sim, tem razão, de transferências à flor da pele se trata. Gostei. Aliás gosto sempre de coisas pouco óbvias.
EliminarLindo o seu texto e belo o poema de Homo Viator sobre os segredos do amor.
ResponderEliminarGostei muito.
Muito obrigada. Gosto muitos dos poemas deste autor. São sempre belíssimos. Escreve sobre o amor, sobre o silêncio, sobre o desânimo, sobre a vida. A regularidade e a qualidade dos poemas dele é impressionante.
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