Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

08 julho, 2012

Meu Deus, a natureza é branca


Por estes dias o mundo chega-me pela família e amigos que me trazem afectos e sorrisos, pela televisão que me traz vulgaridades, pelo computador que me traz diversidade e, claro, pela janela que procuro em busca de vida.

Desloco-me, pois, muito lentamente, até à janela. 

Passos iniciais em busca de espaço, de largueza. Busco palavras, sons, busco cores, alegrias, busco pássaros exóticos, flores loucas, busco imagens exuberantes, busco a vida em festa mas, em vez disso, a janela hoje de manhã mostra-me um véu branco, quase opaco, e o rio e o céu e as casa e tudo o mais está branco, silencioso, imóvel. Apenas uma gaivota, longínqua, cruza o espaço mas não se aproxima. Vejo-a de longe, oblíquo traço escuro que quase rasga a paisagem que hoje é uma gaze que encobre feridas, uma paisagem branca que se recusa a materializar-se.

Volto, então, muito devagar até ao meu poiso onde vou esperar que flautas e magias despertem a natureza e a vida e me tragam todas as cores que há no mundo.



[Abaixo da vida branca aqui abaixo, poderão ler mais um belo poema de Armando Silva Carvalho e, logo a seguir, abrimos a semana dedicada a Antonio Salieri]



O mundo branco visto da minha janela num dia branco


                         Meus Deus, a natureza é branca.
                         E envolve as massas de barreiras sonoras
                         que a boca tenta soerguer num compasso de guia
                         pelos caminhos do texto:
                         a cada palavra o seu sinal de cor,
                         a triste magia de buracos e dedos, de flautas
                         e serpentes.



['42 canções entre 2 portas, nº36', de Armando Silva Carvalho in 'De Amore']

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