Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

11 julho, 2012

Boca cuja doçura me encanta docemente


Diz-me devagar palavras de amor, diz-me baixinho palavras efémeras, mesmo que os meus ouvidos te não ouçam, palavras doces, breves, meu amor; deixa que eu adivinhe o que dizes apenas olhando a tua boca.

Quero ler os teus lábios, quero perceber as entoações e os carinhos pela forma como arqueias o lábio de cima, ou os lamentos pela forma como o de baixo se dobra em beicinho.

Espera, não te mexas, nem digas nada, deixa que eu adivinhe os segredos que guardaste da nossa última noite de amor, deixa-me ver-te em silêncio, meu doce amor, deixa, deixa.

Fala agora mas ainda baixinho, um sussurro apenas, e deixa, pois, que eu adivinhe os suspiros de amor, deixa que os teus lábios, quentes e húmidos, me digam com sorrisos o que os teus olhos escondem, deixa meu amor, deixa.

Ah, deixa-me, deixa-me olhar a tua boca cuja doçura me encanta, deixa-me sentir de perto a respiração do teu corpo, e diz flor, pássaro, asa, árvore, sombra, luz, diz e deixa que eu sinta o perfume das tuas palavras.

Diz, meu amor, mesmo que eu não te ouça, mesmo que eu não te perceba. Diz, diz, diz muito baixinho.

Deixa que eu me aproxime, deixa que os meus lábios se entendam com os teus, deixe que a tua boca diga à minha que muito a quer, porque a minha está doida, meu amor, está perdida por se entender com a tua. Deixa que falem, em silêncio, sobre todas as graças e prazeres deste mundo, deixa, deixa meu amor, deixa.



[Já abaixo da imagem deste casal banhado de azul e doçura, poderão ver um belo poema de Rui Rocha que aqui, hoje e em boa hora, se estreia. Logo a seguir uma bela interpretação de uma música belíssima de Salieri]



Junto ao Tejo, há umas semanas, num dia de sol e de azul radioso


                      boca cuja doçura me encanta docemente
                      eu me encontro nas margens quentes do teu toque
                      boca que guardas o silêncio das noites
                      eu te escuto no sabor quente de todas as palavras
                      boca que fechas os segredos dos dias
                      eu te leio na geometria húmida das tuas linhas
                      boca que respiras as graças do mundo
                      eu te cheiro nos aromas frescos dos sorrisos e suspiros
                      boca cuja doçura me encanta docemente
                      eu me perco de doçura, de medo e de espanto


                      ['A Catherine des Roches (1550-1587) de Rui Rocha in 'A Oriente do Silêncio'

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