Abril festeja-se na rua.
Abril é o dia da Pátria ressurrecta, o dia da Liberdade e da Democracia tão duramente conquistadas, o dia das pessoas, o dia da esperança num mundo melhor.
Haja o que houver, esses desígnios têm que se manter vivos, cantados, ditos, lembrados.
E que os cravos de Abril para sempre simbolizem a força da paz, das flores, da poesia.
Em Abril de 1974 a poesia estava na rua e, enquanto houver poetas, sempre as mentes se inquietarão para que a indiferença, a violência da descrença, os atentados à dignidade e tudo o que vem minando a confiança e o orgulho nacional, saiam vencidos.
[Hoje, 25 de Abril de 2012, os meus cravos vermelhos vão para Miguel Portas, um bravo Homem que lutou por um Portugal melhor. E o meu abraço emocionado vai para Helena, sua Mãe.]
Os Deolinda há pouco em Concerto de rua, festejando o 25 de Abril |
Evoé! de pâmpano os soldados
rompem do tempo em que Evoé! a terra
salve rainha descruzando os braços
com seu pé de papiro pisa a fera.
Na écloga dos rostos despontados
onde dos corvos se retira a treva,
de beijo em beijo as ruas são bailados
mudam-se as casas para a primavera.
Evoé! o povo abre o touril
e sai o Sol perfeitamente Abril
maravilha da Pátria ressurrecta.
Evoé! Evoé! Tágides minhas
outra vez prateadas campainhas
sois na cabeça em fogo do poeta.
['A liberdade, brancura do relâmpago' de Natália Correia in 'O sol nas noites e o luar nos dias, II']
Amiga,
ResponderEliminarApesar dos pesares, 25 de Abril é 25 de Abril.
Os cravos murcharam, os abraços entre desconhecidos acabaram, mas é 25 de Abril.
O poema da Natália é fabuloso. Admiro-a muito. Como poetisa e mulher.
Beijinho.
Mary
Olá Mary,
EliminarApeteceu-me trazer para aqui a exuberância e truculência da Natália Correia. Era uma mulher que se fazia à vida de peito feito, sem meias palavras.
E hoje esteve um dia tão cinzento, tão chuvoso. Mas que seja 25 de Abril dentro de nós, sempre.
Um beijinho, Mary.
Cara UJM:
ResponderEliminarE porque Abril se festeja na rua com poesia e cantigas, como há 38 anos canto! Com Urbano T.R. junto a minha à sua voz e à de todos os que contam contra a aridez, a mentira, a miséria e a ignorância.
Resistamos pela esperança!
O inverno não dura sempre
névoa da nossa desilusão
Desce à terra nuvem que vogas
sobre a aridez da mentira
mil metros acima do chão
Abre-te ao nosso desejo
deixa florir tua água de mudança
nesta cidade em que tudo está à venda
e se pisam os dedos do mais fraco
e a sua dor
Trago na ponta da língua a indignação
e na mala a tiracolo uma carta
sem verdades seguras mas com esperança
num outro Abril
Com plantas de luz
para ficarem.
Urbano Tavares Rodrigues
in “Horas de Vidro”- D. Quixote
Dias felizes acompanhados sempre de poesia e música
abraço da
Luísa sobe a calçada
Luísa que poeticamente sobe a calçada,
EliminarBelo poema que tão bem exprime o que todos nós (que acreditamos na liberdade e na democracia) pensamos e desejamos.
Não conhecia este poema e, aliás, não conhecia Urbano Tavares Rodrigues como poeta, apenas como romancista, contista.
Obrigada, pois, Luísa.
Dias felizes e despreocupados para si, Luísa.
Querida UJM
ResponderEliminarVenho visitá-la e encontro este seu texto tão belo, tendo como mote o poema da inesquecível Natália Correia.Pergunto-me como foi que, na sua essência, mas sem o igualar em beleza e expressividade, escrevi um texto tão parecido ao seu... ainda há pouco. :) Também eu falei em festa nas ruas e...
Minha querida, realmente a Pátria ressurecta há trinta e oito anos necessita agora de uma renovação em termos de alegria, de leveza e de espontaneidade.
Beijos
Olinda
Olá Olinda,
EliminarJá lá fui festejar consigo o 25 de Abril e gostei do que disse. Subscrevo.
Como lhe disse, estive na rua, numa praça cheia de gente, até depois da 1 da manhã. O concerto estava uma animação e cantava-se e dançava-se e isto para mim também é o 25 de Abril, a alegria e a festa na rua, no meio da gente.
(Depois ainda vim para aqui escrever isto porque não consegui escrever antes e não queria deixar passar o dia em branco, claro).
Bjs, Olinda!
bonitos texto e poema.um pouco estranho festejar o 25 de abril 37 anos depois. tudo o que se conseguiu e avançou está a desaparecer aos poucos. uma onda de revancha inunda isto aos poucos.
ResponderEliminarPois é, Caro Patrício Branco. Festejamos e sabemos que tanto do que se desejou tem vindo aos poucos a desaparecer. As pessoas e o seu bem estar e o progresso do País deixaram de ser objectivos importantes.
EliminarMas eu não me conformo e, por isso, aqui vou relembrando o que posso, na medida das minha possibilidades.
No 25 de Abril a poesia andava na rua - e aqui no Ginjal é sempre 25 de Abril porque a poesia anda sempre na rua.