Desço à beira do mar, hesito, olho o passado, olho o que fica para trás, olho a casa, o jardim, os sorrisos, os afectos macios, a porta que se fecha, íntima, as cortinas que velam a luz do exterior. O conforto morno, a segurança suave, o aconchego, o coração e as mãos.
Ah, este temor, o temor.
Praias desabridas, solidão, desconhecido, mistério sem nome, e eu aqui, hesitante.
Penso em ti. Penso em ti, o torpor que se segue a ti. Temor.
Mas, à frente, a liberdade, a liberdade. Que infinita vontade de partir.
[Na beira da praia, as palavras do poeta seguem, em liberdade, até à valsa de Ravel. Tamanha é a vontade de partir que iremos com ele.]
Gaivota na beira do Tejo, no Ginjal |
Sei
Sei tu
Amarás o torpor que se seguirá a ti
Praias desabridas com o temor
Liberdade, liberdade
infinita vontade de partir
[Poema de 2009, pag 71, de José Alexandre Caldas Ribeiro in 'A água que nos move']
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