Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

22 janeiro, 2012

O que vamos fazer amanhã neste caso de amor desesperado?

 
Trazes-me para jardins proibidos, olhas-me sombrio, desfazes-te em saudades, agarras-me, amas-me sem esperança, angustias-te, escondes-te aqui comigo para me dizeres palavras de amores impossíveis, para me falares de dias sem amanhãs, para disfarçares lágrimas angustiadas. 

Escadas que não levam a lado nenhum, árvores tombando rente ao rio, sombras, recantos obscuros e nós aqui, longe de todos, amantes improváveis. E tu nesta opressiva tristeza, o que vamos fazer amanhã entre as árvores e a solidão?, e seguras-me o braço, não vás, espera, não vás, não me deixes aqui à beira desta tentadora ravina.

E eu, femme infidèle, sorrio, sai do escuro, procuro a luz, chamo-te, e digo-te que o que conta são os momentos em que estamos juntos, que não os desgastemos com o que vem a seguir, que talvez amanhã estejamos apenas os dois sozinhos no mundo e que talvez isso nem fosse assim tão bom, que interessa?, que não gosto de tristezas, de culpas, de sonhos impossíveis, de lamentos românticos, de desesperos sussurrados. 

E digo-te que me vou embora e que apenas voltarei se me abraçares sem anseios, se me beijares sem receios, se me tiveres com a certeza e confiança de quem ama a sua própria mulher tal como eu te amo por inteiro como se fosses o único homem da minha vida.



[Uma história assim pede violinos e desde já aqui vos deixo o convite para que desçam um pouco mais. A seguir ao lamento de Vasco Graça Moura, encontrará a primeira peça desta semana dedicada a Paganini.]

No jardim do Ginjal, casal entre árvores


                            o que vamos fazer amanhã
                            neste caso de amor desesperado?
                            ouvir música romântica
                            ou trepar pelas paredes acima?

                            amarfanhar-nos numa cadeira
                            ou ficar fixamente diante
                            de um copo de vinho ou de uma ravina?
                            o que vamos fazer amanhã

                            que não seja um ajuste de contas?
                            o que vamos fazer amanhã
                            do que mais se sonhou ou morreu?
                            numa esquina talvez te atropelem,

                            num relvado talvez me fusilem
                            o teu corpo talvez seja meu,
                            mas que vamos fazer amanhã
                            entre as árvores e a solidão?
                         
                         
['Lamento por Diotima' de Vasco Graça Moura in Concerto Campestre]
  
                       

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