Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

11 janeiro, 2012

Desce lento, vivendo cada espaço que ocupa com a segurança de não lhe retornar

  
Este homem que aqui vai rumo ao lugar longínquo e secreto onde o sol se põe, caminha com segurança, não sabe exactamente para onde vai, sabe apenas que vai em frente, e gosta de estar a ir.

Este homem não tem medo. Não sabe onde vai dar este caminho nem isso o preocupa. Ele sabe que a cada momento que passa, um outro nasce, enquanto um outro fica para trás. A sua vida vai ficando em cada um desses momentos. E assim é o percurso da vida.

Um dia virá em que este homem não poderá mais caminhar. Mas esse dia está para além do esconderijo do sol, muito além, apenas a ele chegará no final do percurso, quando anoitecer dentro do seu peito. Até lá, o homem avança com absoluta serenidade, olhando o céu que se adensa de luz, respirando o ar puro que vem do fundo do mar, sentindo a felicidade suprema que é andar em liberdade, a caminho da luz.

Enquanto anda, vai pensando: quem me fez assim? quem me dá toda esta minha força? mas, não obtendo a resposta, continua com o mesmo vigor. Ele é um homem feliz, consciente da sua condição, um homem livre que caminha pelos seus próprios pés.



[Esta luz quente pede uma música de grande beleza. Desça um pouco mais e encontrará, nesta semana que dedico a Rachmaninov, um momento de grande harmonia.]

Caminhando rente ao Tejo, em Belém


                                     Desce lento,
                                     vivendo cada espaço que ocupa
                                     com a segurança de não lhe retornar.
                                     Pisando a calçada íngreme
                                     com apreço,
                                     direccionando o olhar
                                     com precisão.
                                     Seleccionando os sentimentos
                                     com aguçada verdade.
                                     Mantendo-se à superfície,
                                     olhando as oscilações
                                     com bravura reenviada de outras paragens
                                     em encomenda sem remetente.


[Poema de Patrícia Aguiar in '190 minutos aqui', livro com ilustrações de Marisa Benjamim]
 

2 comentários:

  1. "Até lá, o homem avança com absoluta serenidade, olhando o céu que se adensa de luz, respirando o ar puro que vem do fundo do mar, sentindo a felicidade suprema que é andar em liberdade, a caminho da luz.". Sempre a luz!...
    Gostei.
    J. Rodrigues Dias

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  2. Como já consegui voltar a aceder aos comentários, não quero deixar de aqui, neste sítio, deixar o eu agradecimento pela sua visita, pelas suas palavras e de, por esta via, eu ter ficado a conhecer o seu blogue e a forma luminosa como usa as palavras.

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