Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

01 janeiro, 2012

Aqui o tempo apaixonadamente encontra a própria liberdade

  
Passam por mim, ágeis e brancas, contra um mar de azul e elevam-se, tombam, deslizam, bailam, voam, voam, livres, tão livres na sua infinita graça.

Tento que me tomem por uma das suas, que me levem também, que me ensinem a voar e, então, deixo-me estar, imóvel, deslumbrada, e quase me apetece ajoelhar perante tamanha beleza. É um bailado, um jogo, um desafio, e gritam, dão longos gritos de liberdade enquanto se elevam com as suas longas e brancas asas.

Olho em silêncio e penso, é isto que eu quero, esta liberdade pura, esta alegria apaixonada, quero atravessar os longos espaços e voar, voar.

E, então, retrato-as, etéreas bailarinas, pássaros livres, mulheres como eu.



[Quis começar o ano novo com Sophia, com liberdade, com voos brancos - e com Tchaikovsky. Desça um pouco, se quiser partilhar comigo uma música que me habita há muitos anos]


Ontem, gaivotas em plena liberdade sobre um rio de um azul absoluto


                                      Aqui nesta praia onde
                                      não há nenhum vestígio de impureza,
                                      aqui onde há somente
                                      ondas tombando ininterruptamente,
                                      puro espaço e lúcida unidade,
                                      aqui o tempo apaixonadamente
                                      encontra a própria liberdade.


('Liberdade' de Sophia de Mello Breyner Andresen in Obra Poética II)

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