Subo estas escadas que não levam a lado nenhum. Fico mais perto do céu, mais perto das aves que esvoaçam por aqui. Vejo o rio em toda a sua largueza, vejo a branca e luminosa cidade. Estas escadas são brancas e alguém, nelas, desenhou o céu e as nuvens.
Uma vez ali, olho à volta e digo 'daqui solto as palavras, daqui as deixo voar'.
Umas vezes vejo-as a voar, a elevarem-se nos ares. Mas, outras vezes, elas caem, rodopiam rente ao chão, mergulham no rio, afogam-se. Então chamo por elas, 'voltem, voem, afaguem-me, afagem o meu amor, afaguem aquele gato, afaguem aquele velho que ali olha o horizonte, voltem, voltem' mas elas, nesses dias, têm uma densidade que não lhes permite voar, o seu peso arrasta-as para o interior da terra, para o fundo do mar.
[Continuamos com Beethoven e a sonata para violino e piano, já ali abaixo, deixa-nos ver o contraste entre densidade e leveza]
No jardim do Ginjal, escadas para o céu (e para ver melhor o Tejo e Lisboa) |
O pulsar
das palavras,
atraídas
ao chão
desta colina
por uma densidade
que palpita
entre
a cal
e a água,
lembra
o das estrelas
antes
de caírem.
('VII. Micropaisagem' de de Oliveira in Trabalho Poético)
ou o efeito da gravidade que as palavras tambem devem sofrer. O das estrelas cadentes é antes atração, talvez a atração tambem tenha efeito nas palavras. Mas de tudo isso resultou um instante poetico
ResponderEliminarCaro Patrício,
ResponderEliminarJá lhe disse que gosto dos seus comentários?
São inteligentes, ao mesmo tempo pragmáticos e poéticos. Gosto. E deixam-me sempre a pensar (e a sorrir).
Obrigada, meu Caro!