Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

31 dezembro, 2011

Ainda me atiro à vida desafiando o eterno sem rede - e assim quero continuar em 2012. Que tenham vocês também um belo 2012, um ano que permita todas as vossas ilusões, que vos permita ser muito felizes.

  
Eu era uma menina que gostava de brincar na rua, de andar na rua até ser noite. A grande aventura era brincar de noite na rua. Havia uma liberdade que me era ainda desconhecida, havia uma magia nas luzes amarelas que mal iluminavam a rua, uma magia que eu, então, apenas intuía. Brincava desafiando o medo, escondia-me desafiando os seres nocturnos que poderiam saltar para me amedrontar, e conquistava o meu espaço, a minha segurança.

Ainda hoje, quando posso andar à noite, sob a luz escassa, em jardins por onde passeiam também fadas e duendes, sinto o mesmo - um medo indefinido, uma atracção aliciante, uma vontade de fixar dentro de mim as imagens inventadas que se formam à minha vista.

A criança que eu fui, curiosa, aventureira, destemida, desafiadora e, também frágil, e também sonhadora, a menina que se deslumbrava perante a beleza da rua, dos jardins, das estrelas, da lua, a menina que se deliciava com o sorriso no rosto dos outros ainda está dentro de mim. Todos os dias essa menina convive comigo e, de todos os seres que me rodeiam e que me habitam, é a essa menina que eu dou mais ouvidos, é ela que comanda a minha vida.

Essa menina que adorava correr, que adorava correr em descidas sentindo-se acelerar até quase sentir que não conseguia parar, a menina de cabelos ao vento, a menina que queria ver estrelas candentes, a menina que tudo queria, que tudo amava - essa menina ainda sou eu.


Que 2012 continue a permitir-me guardar dentro de mim, intacta, a criança que fui e sou, que seja uma ano muito bom. E, se o desejo para mim e para os meus, desejo-o também para vocês. Que tenham todas as razões para serem felizes. Construam as vossas próprias razões. Não as deixem passar ao vosso lado. Procurem-nas. Sejam felizes. Em 2012 e em todos os anos que se seguirão.



[E, claro, para encerrar 2011 e abrir 2012, tinha que aqui ter uma ode à alegria e, estando nós a encerrar a semana de Beethoven, teria que aqui vos oferecer o final da 9ª sinfonia - para vos desejar um 2012 muito alegre!]

Jardim junto ao Tejo, em Belém - de noite


                                      Ainda me atiro à vida
                                      desafiando o eterno
                                      sem rede, porque não há
                                      e verdadeiramente não houve
                                      e o pouco dinheiro
                                      poupado para a idade
                                      avançada do tempo gastei.

                                      Volto à ilusão plena
                                       da liberdade da essência
                                       e zango-me completamente
                                       com o absurdo de ter
                                       trabalho para sustentar
                                       a criança que me habita
                                       indo e vindo
                                       digo-lhe:

                                       porta-te bem
                                       criança do meu corpo
                                       sossega o ímpeto do desejo
                                       da luz que não verás
                                       a não ser na ilusão até ao fim
                                       brinquedo nas minhas mãos
                                       enquanto viver.


                                       ('Ir & Vir' de Emerenciano in 'Ir & Vir)
                            

2 comentários:

  1. 'Ainda me atiro à vida desafiando o eterno sem rede - e assim quero continuar em 2012.'

    Palavras lindas do autor deste poema e recriadas por si, tão bem. Adorei ler o seu texto, da menina valente que desafia a noite, noite que atrai e, ao mesmo tempo, amedronta, mas sabendo que a vida tem de ser vivida e, muitas vezes, sem rede.

    Feliz 2012! :)

    Beijo

    Olinda

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  2. Muito obrigada, Olinda. Fico sempre contente ao ler os seus comentários porque sinto que entra, com grande empatia, no espírito que me levou a escrever as palavras e a seleccionar o poema.

    Que 2012 seja um belo ano para si e para os seus, e que o espírito de menina curiosa também exista sempre dentro de si. Isso leva-nos a sentir que temos a vida pela frente e a encarar o futuro com alegria e esperança.

    Um beijinho.

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