Que calor está, meu amor. Estendo-me e o sol chega-se a mim sem pudor, toca-me, aperta-me, entra no meu corpo. Que calor este, meu amor. Desato o cabelo, deixo que se espalhe no chão em que me deito. E o calor vem, despudorado, meu amor, cai sobre o meu corpo, molha-me o cabelo, molha-me o corpo. Que impúdico, meu amor. Mergulho então, na água, no calor, em ti meu amor. Só depois penso que não devia. Tarde demais.
[Noites quentes de um verão em outono - apenas se está bem junto ao rio. Ouçamos a voz quente de Eugénio e, então, desçamos até ao Ginjal. Take five, pois claro, pelo Dave Brubeck Quartet.]
Numa bela tarde de um outono que parece verão, esplanada de rua à beira Tejo |
Sobre o teu corpo caio -
daquele modo que o verão tem de espalhar os cabelos
na água esparsa dos dias
e faz das peonias uma chuva de oiro
ou a mais incestuosa das carícias.
('Sobre um corpo' de Eugénio de Andrade in Antologia Breve)
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