Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

17 outubro, 2011

o riso quase bastante quase músculo florido deste instante quase novo

  
Dizias-me que eu parecia uma mulher bem mais nova quando caminhava para ti, sorrindo, um ligeiro golpe de aragem no vestido.

Tinha então os olhos quase secos, as lágrimas ainda quase distantes e parecia que caminhava num sonho.

Os cabelos soltos, voavam dourados pelo sol e tu, de longe, olhavas-me e sorrias. Sabias que era para ti que eu sorria, que eu andava, que eu vestia aquele vestido quase branco.

Era de tarde, estava calor, e eu sorria, quase nova, quase feliz, quase tua.

E agora, passado tanto tempo, é ainda para ti que eu sorrio quando ando ao sol, com um vestido quase branco, quase feliz de ainda te ter dentro do meu coração, meu amor quase meu.



 
[Vamos esperar que anoiteça. Depois desça comigo ali até à beira do rio, até a um recanto de uma velha casa onde se canta o fado. Depois do poema, é logo ali]

No Ginjal, mesmo sobre o Tejo


                        Uma mulher quase nova
                        com um vestido quase branco
                        numa tarde quase clara
                        com os olhos quase secos

                        vem e quase estende os dedos
                        ao sonho quase possí
vel
                        quase fresca se liberta
                        do desespero quase morto

                       
                        quase harmónica corrida
                        enche o espaço quase alegre
                        de cabelos quase soltos
                        transparente quase solta

                        o riso quase bastante
                        quase mú
sculo florido
                        deste instante quase novo
                        quase vivo quase agora



('Uma mulher quase nova' de Mário Dionísio in '366 poemas que falam de amor')

 

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