Dizias-me que eu parecia uma mulher bem mais nova quando caminhava para ti, sorrindo, um ligeiro golpe de aragem no vestido.
Tinha então os olhos quase secos, as lágrimas ainda quase distantes e parecia que caminhava num sonho.
Os cabelos soltos, voavam dourados pelo sol e tu, de longe, olhavas-me e sorrias. Sabias que era para ti que eu sorria, que eu andava, que eu vestia aquele vestido quase branco.
Era de tarde, estava calor, e eu sorria, quase nova, quase feliz, quase tua.
E agora, passado tanto tempo, é ainda para ti que eu sorrio quando ando ao sol, com um vestido quase branco, quase feliz de ainda te ter dentro do meu coração, meu amor quase meu.
E agora, passado tanto tempo, é ainda para ti que eu sorrio quando ando ao sol, com um vestido quase branco, quase feliz de ainda te ter dentro do meu coração, meu amor quase meu.
[Vamos esperar que anoiteça. Depois desça comigo ali até à beira do rio, até a um recanto de uma velha casa onde se canta o fado. Depois do poema, é logo ali]
No Ginjal, mesmo sobre o Tejo |
Uma mulher quase nova
com um vestido quase branco
numa tarde quase clara
com os olhos quase secos
vem e quase estende os dedos
ao sonho quase possível
quase fresca se liberta
do desespero quase morto
quase harmónica corrida
enche o espaço quase alegre
de cabelos quase soltos
transparente quase solta
o riso quase bastante
quase músculo florido
deste instante quase novo
quase vivo quase agora
('Uma mulher quase nova' de Mário Dionísio in '366 poemas que falam de amor')
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