Não me dominas, não me debelas, não me retens, não me tens. Por vezes tentas, mas já devias ter percebido que isso não será possível, nunca.
Sou metade mulher, metade cavalo, parto em voo, sem rédeas.
Tentas conter-me com esporas. Pior ainda.
Combates-me, tentas segurar-me, educar-me, adestrar-me, tentas colocar-me o freio. Impossível.
Tentas então prender-me, receias que me perca no deserto, sobre as águas, no fundo do mar, no alto dos montes, atrás dos grandes pássaros. Mas sabes que sempre fugirei.
Preciso de espaço, de solidão, de me perder no meio das grandes cidades, de me deslumbrar junto a um mar aberto no qual se reflecte o luar, preciso de ser eu, eu toda, eu.
E então, livre, feliz, subtil sopro dentro de um poema, embalada pela emoção profunda da música mais limpa, inundada de claridade, dos perfumes da maresia, o olhar lavado, os braços abertos, sonhando voar ao lado dos veleiros, chamar-te-ei. Anda, vem para perto de mim, deita-te ao meu lado, dá-me a mão, sente a minha pele, ouve o meu coração, mistura-te comigo.
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[Depois da leitura do poema de Sophia, desce um pouco mais, vem comigo, vem que vou mostrar-te aquilo de que estou a falar-te. Svetlana ex-machina sou eu]
Junto ao Tejo, de frente para Lisboa, a Iluminada (fotografia propositadamente encoberta) |
Metade de mim cavalo de mim mesma eu te domino
Eu te debelo com espora e rédea
Eu te debelo com espora e rédea
Para que não te percas nas cidades mortas
Para que não te percas
Nem nos comércios de Babilónia
Nem nos ritos sangrentos de Nínive
Para que não te percas
Nem nos comércios de Babilónia
Nem nos ritos sangrentos de Nínive
Eu aponto o teu nariz para o deserto limpo
Para o perfume limpo do deserto
Para a sua solidão de extremo a extremo
Para o perfume limpo do deserto
Para a sua solidão de extremo a extremo
Por isso te debelo te combato te domino
E o freio te corta a espora te fere a rédea te retém
E o freio te corta a espora te fere a rédea te retém
Para poder soltar-se livre no deserto
Onde não somos nós dois mas só um mesmo
No deserto limpo com seu perfume de astros
Na grande claridade limpa do deserto
No espaço interior de cada poema
Luz e fogo perdidos mas tão perto
Onde não somos nós dois mas só um mesmo
Onde não somos nós dois mas só um mesmo
No deserto limpo com seu perfume de astros
Na grande claridade limpa do deserto
No espaço interior de cada poema
Luz e fogo perdidos mas tão perto
Onde não somos nós dois mas só um mesmo
("No deserto" de Sophia de Mello Breyner Andresen in Obra Poética III)
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Ando a descobrir-te "jeito manso"
ResponderEliminare neste calmo percurso autorizado
encontrei-te na minha figueirinha, ali
onde banhei os filhos nas águas transparentes
na minha arrábida
onde enamorado
o meu jovem corpo disse sim...
Voltei aqui
e encontrei Sofia
saberás na Helena de Paris
porque lhe levo flores
de vez em quando
Apenas algumas pedras de praia
encontro na visita
Eu sei que não importa o lugar
onde ficou
mas sabe-me bem encontrar o seu nome escrito
e dizer-lhe poemas em surdina
num lugar diferente
onde há lagos, patos e alfazema
e um moinho a desfazer-se em ruína
Era uma vez,
ResponderEliminarTodas as noites eu ando estas minhas três casas (o Um Jeito Manso, o Ginjal, a Street Photo - e devia passar também pelas Historinhas mas quase não me dá tempo e os meus 3 menininhos ainda não reivindicam muito...).
Em qualquer destes meus poisos, será sempre muito bem vinda.
As suas poesias, tão espontâneas, numa toada tão natural, terão sempre lugar nestes meus cantos.
No Um Jeito Manso já lhe contei uma lembrança que me ocorreu depois de ter lido o seu poema de 21 de setembro. Depois de o ler, foi a imagem que me veio à ideia.