Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

18 setembro, 2011

Eu digo-te onde estou e logo saberás quem sou

Estudo as falas, ensaio as deixas, exponho-me, falo, aqui estou num palco. E o palco ilumina-se para que vocês me vejam.

Mas do lado de lá está escuro, não vos vejo. Estão aí? Estás aí?

Falo para todos, todos me ouvem mas espero que alguém, em particular, perceba de forma especial as minhas palavras. Você que me lê, sente que escrevo para si? Tu aí, que me lês, percebes que as palavras são para ti?

Vocês, aí às escuras, que ouvem as minhas palavras, sentem que agora, aqui, é para vocês que as escrevo? Cheguem-se, venham até aqui, cheguem-se um pouco à luz, deixem-me ver-vos.

Tu, tu aí, tu que estás longe de mim, em silêncio nessa cadeira, deixa que uma palavra tua atravesse a solidão do espaço, atravesse a escuridão do mundo, e diz-me uma palavra para que eu saiba que estás aí - só isso, não peço mais.

Não peço que pises o mesmo palco que eu, peço apenas que me deixes saber que estás aí. E que, ao ouvir-me, estás comigo. E que, ao ler estas palavras, ficas a pensar em mim.

Manhã irreal no Ginjal, teatro de sombras, veleiros brancos num Tejo quase inventado

          Eu digo-te onde estou
          e logo saberás qum sou.
          Na escuridão do mundo
          iluminarei a solidão do espaço
          e passo a passo os olhos hão-de ver
          o que mais ninguém vê.
          E até nós perguntaremos
          se o que os nossos pés agoram pisam
          são as tábuas do palco e as da lei.


          ('2. Ele', outro belo, belo poema de Pedro Tamen in 'Um teatro às escuras')

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