Do coração para as mãos - e assim eu recebo o aroma dessas flores e dessas coloridas figuras.
Há um ligeiro deslocar da tua mão, um suave e subtil gesto, inconsciente até talvez mas, pelo menos, não são sombras, apenas frias pedras.
Guarda no teu coração o teu grande amor, que para sempre fique dentro de ti, a dor é irreparável, eu sei. Mas abre um espaço.
Tenho cheiros de maresia, gritos de gaivotas, rastos de veleiros, sorrisos, palavras alegres, aragens suaves, tenho flores, tenho gestos de afecto para te ensinar.
Talvez ainda não o 'amor suspenso no lugar do outro', mas, pelo menos, um suave e calmo afecto feito de palavras. E um mundo inventado, onde podemos sonhar sem medos, sem más recordações. Dá-me a tua mão. Vem comigo.
O ligeiro deslocar
de tua mão que deste
arbusto retira o aroma,
almiscarao ou floral,
e mo oferece, intacto,
é o mais subtil, glorioso
dos movimentos
que não mais suporta
o tremor do finito,
ser pedra, ser água,
acumulação de grãos,
este irreparável dentro,
amor suspenso
no lugar do outro.
('Aroma suspenso' de Ana Marques Gastão in Adornos)
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