Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

15 setembro, 2011

... este irreparável dentro, amor suspenso no lugar do outro.


Do coração para as mãos - e assim eu recebo o aroma dessas flores e dessas coloridas figuras.

Há um ligeiro deslocar da tua mão, um suave e subtil gesto, inconsciente até talvez mas, pelo menos, não são sombras, apenas frias pedras.

Guarda no teu coração o teu grande amor, que para sempre fique dentro de ti, a dor é irreparável, eu sei. Mas abre um espaço.

Tenho cheiros de maresia, gritos de gaivotas, rastos de veleiros, sorrisos, palavras alegres, aragens suaves, tenho flores, tenho gestos de afecto para te ensinar.

Talvez ainda não o 'amor suspenso no lugar do outro', mas, pelo menos, um suave e calmo afecto feito de palavras. E um mundo inventado, onde podemos sonhar sem medos, sem más recordações. Dá-me a tua mão. Vem comigo.

No Ginjal, ao cair da noite, sobre o Tejo e Lisboa do outro lado: o aroma do amor


            O ligeiro deslocar
            de tua mão que deste
            arbusto retira o aroma,
            almiscarao ou floral,
            e mo oferece, intacto,
            é o mais subtil, glorioso
            dos movimentos


           que não mais suporta
           o tremor do finito,
           ser pedra, ser água,
           acumulação de grãos,
           este irreparável dentro,
           amor suspenso
           no lugar do outro.


         ('Aroma suspenso' de Ana Marques Gastão in Adornos)

Sem comentários:

Enviar um comentário