Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

15 agosto, 2011

Vinham rosas na bruma florescida rodear no teu nome a sua ausência

De uma leitora que gosta de escrever e que não se atreveu ainda a divulgar o que escreve por conta própria, M., aqui vos deixo, com a sua permissão, um texto que me fez chegar por mail. Acho que conjuga bem com o poema abaixo e com a foto que escolhi para ilustrar:


"Hoje dei por mim a pensar em ti.

Quer dizer, nao é que tenha sido só hoje, como tu bem sabes, porque eu há muito tempo que penso muito em ti, de muitas maneiras diferentes e em muitas horas não contadas dos dias que correm devagar.

Mas hoje dei por mim a pensar em ti de forma diferente, de forma mais pensada e calada.

Nao te assustes com a palavra «amo-te». Ela pode não ser assim tão séria, nem tão formal.

É que eu amo-te sabes, neste meu amor fácil e sem prendura, deste jeito impensado e consagrado em todas as tuas palavras no meu ouvido, em todos os teus gestos em mim.

Amo-te assim sem esse peso todo que a todos deixa consternados e ensimesmados, como um pesadelo bem carregado a pairar e a acompanhar-nos todos os dias destas vidas.

É que o meu amor é assim fácil, sabes, assim puro, sabes, uma coisa só assim de mim para ti, leve e desprendida como todo o amor devia ser.

Eu amo-te nesta minha forma de te amar, com este amor que é só teu, com esta ligeireza que é só minha para ti.

Por isso não te assustes com o que te escrevo ou digo, porque eu te quero assim só por querer, só por me quereres, sem laços a prenderem-nos, sem vontades de mais. Porque te quero amar só assim, deste jeito fácil e esquecido. 

É que assim não custa, sabes, assim doem menos as ausências e as solidões. Assim não se pensa nem sente tanto. Porque assim é só assim, à flor da pele e sem medos de mais.

 
Amor I Love You


M."

Ao cair da noite, no Ginjal, mesmo em cima do Tejo

Vinham rosas na bruma florescida
rodear no teu nome a sua ausência.
E a si se coroavam, e tingiam
a apenas sombra de sua transparência.

Coroavam-se a si. Ou no teu nome
a mágoa que vestiam madrugava
até que a bruma dissipasse o bosque
e ambos surgissem só lugar de mágoa.

Mágoa não de antes ou de depois. Presente
sempre actual de cada bruma ou rosa,
relativos ou não no espelho ausente.

E ausente só porque, se não repousa,
é nome rodopio que, na mente,
embruma a brisa em que se aviva a rosa.


(Poema de Fernando Echevarría in Poemas de Amor, antologia poética organizada por Inês Pedrosa)

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