Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

24 agosto, 2011

Um veleiro imprevisto, a contagem decrescente do fôlego, a proximidade, um fino crepúsculo

Acelera-se a pulsação, os sons quase desaparecem, só ouço o meu sangue a latejar, a luz quase desaparece: aproxima-se a hora de te rever.

Toda eu tremo, toda eu estremeço, as portas abrem-se e não és tu, ouço passos e ainda não são os teus, quase não respiro, suspensa da espera.

O dia está a chegar ao fim, imagino que estejas a caminho, imagino que também tu tremes, que também tu vens sem fôlego, espreito pela janela: é um imprevisto veleiro que aguarda não sei o quê.

E depois o ar rarefaz-se, o meu coração pára, deixo de ver, deixo de ouvir: é então que a porta se abre e, finalmente, és tu.

Meu amor.


Imprevisto e improvável pequeno veleiro no Tejo, há pouco ao pôr do sol
Lisboa, a Bela, espera, banhada a ouro

Um delirium tremens, o sublime estático
e visível, o espaço cada vez maior
entre as paredes, a escrita do mundo,
o sólido ar crescendo, o diferente azul
da noite, um pulso iluminado, uma quarta-feira
iridescente, a porta por onde se torna
a passar, uma venda onde os olhos
transbordam, um veleiro imprevisto,
a contagem decrescente do fôlego, a proximidade
em saltos sucessivos, um fino crepúsculo,
a neve que no corpo principia,

e depois disto, o contrário de tudo.


('E depois disto' de Pedro Mexia in Menos por Menos)

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