Ginjal e Lisboa

Ginjal e Lisboa

03 agosto, 2011

Tenho pena das palmeiras: frente ao peso do mundo são orgulhosamente lugar de amor

Penso no teu nome.

Nos meus lábios tenho o teu nome, não os teus beijos.

É noite, estou envolta em silêncio, o meu coração canta uma melodia antiga, um cantus firmus.

Sei que, quando o vento levar até ti este cântigo, virás.

Por isso, à tardinha, sento-me aqui à beira do rio, junto a esta palmeira. Aqui nos encontrávamos.

Aqui sempre nos encontraremos, orgulhosamente ao sol, frente ao peso do mundo.



O vento sacode as palmeiras.
Não tardará a chuva.
Tem chovido tanto nos meus versos
que a chuva se tornou insuportável.

Apesar disso, os pássaros cantam.
São os melros de Messiaen.
Mesmo envelhecido
também o coração canta.

Acode-me aos lábios um nome.
É de noite: quando
a música cessa, o silêncio
como estrela brilha na boca.

Tenho pena das palmeiras
à chuva noite e dia, ao vento, ao sol.
Frente ao peso do mundo
são orgulhosamente lugar de amor.


('Cantus Firmus' de Eugénio de Andrade in 'Os lugares do Lume)

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