Penso no teu nome.
Nos meus lábios tenho o teu nome, não os teus beijos.
É noite, estou envolta em silêncio, o meu coração canta uma melodia antiga, um cantus firmus.
Sei que, quando o vento levar até ti este cântigo, virás.
Por isso, à tardinha, sento-me aqui à beira do rio, junto a esta palmeira. Aqui nos encontrávamos.
Aqui sempre nos encontraremos, orgulhosamente ao sol, frente ao peso do mundo.
O vento sacode as palmeiras.
Não tardará a chuva.
Tem chovido tanto nos meus versos
que a chuva se tornou insuportável.
Apesar disso, os pássaros cantam.
São os melros de Messiaen.
Mesmo envelhecido
também o coração canta.
Acode-me aos lábios um nome.
É de noite: quando
a música cessa, o silêncio
como estrela brilha na boca.
Tenho pena das palmeiras
à chuva noite e dia, ao vento, ao sol.
Frente ao peso do mundo
são orgulhosamente lugar de amor.
('Cantus Firmus' de Eugénio de Andrade in 'Os lugares do Lume)
Sem comentários:
Enviar um comentário